Quem É Cristão E Quem Não É

Há muito tempo atrás o Brasil foi considerado um país oficialmente católico. No decorrer dos anos foi havendo uma redução no quadro de fiéis. É claro, comparado ao estrondoso número do passado.

Hoje a religião que mais cresce no país é a evangélica. Onde você for encontrará uma igreja. Do bairro mais humilde até a alta classe. A estimativa é que para 2020, metade do Brasil tenha se convertido.

Quando isso acontecer, certamente, haverá um fato semelhante ao catolicismo. Os fiéis de dividirão em duas classes: os praticantes e os não praticantes. Isso já acontece nas igrejas, mas com outro nome. São os crentes, os de verdade mesmo; e os "meia-boca", os que não querem nada com nada, os "sambariloves". É fácil diferenciar um do outro.

Dá para perceber na forma de falar. Crente diz "aleluia" quando está feliz, "Gloria a Deus" quando algo bom acontece. O meia-boca simplifica com "que massa" ou pior, "que tri".

Meia-boca é barulhento e gosta de chamar atenção. Crente é extravagante e quer chamar atenção apenas de Deus. Quando o meia-boca se ajoelha e chora é porque, certamente, está se arrependendo de seus pecados. Quando o crente faz o mesmo é porque Deus o tocou de uma forma sobrenatural.

Meia-boca lê de tudo. Diz que é para ter conhecimento, para se capacitar profissionalmente. Mas na verdade é para fortalecer seu humanismo e se perder em vãs filosofias. Crente lê apenas a bíblia. Talvez algum livro escrito por outro crente. Nada mais que isso. Não quer perder o foco.

Crente ouve apenas música "gospel". Por mais que este gênero não tenha nada a ver com o estilo musical norte-americano ao qual o nome provém, é o que eles ouvem. O meia boca? Ele gosta de uma boa MPB e um Blues. Ouve Legião Urbana e dos estrangeiros curte Beatles e Foo Fighters. O máximo de um crente é Rodox e Planta e Raíz.

O meia-boca é fanático por futebol. Idolatra um time. Venera um jogador. Gasta quantias exorbitantes para frequentar o estádio. O crente prefere o saudável e cooperativo MMA. Acompanha todos os eventos do esporte. Até viaja para outros estados para acompanhar os duelos.

O meia-boca é vaidoso. Arruma-se todo para chamar atenção e ganhar a aprovação de quem está ao redor. Gosta de marcas para se sentir superior. Já o crente se veste para Deus. Cada cifrão gasto, por mais elevado que possa ser, é para entregar excelência em dias de culto.

Meia-boca é fofoqueiro. Fala da vida de todos. Crente não. Ele apenas comenta entre os diáconos e presbíteros para poder ajudar. O meia-boca é crítico. Dá para notar pelo olhar. O crente, com um olhar parecido, discerne o espírito.

O meia boca é repleto de lascívia, cobiça todas as mulheres da igreja - e da rua. O crente contempla o belo, está atrás de quem pode ser sua "benção". O meia-boca é orgulhoso, um baita soberbo. O crente não confia em homens, apenas em Deus.

O meia-boca gasta dinheiro com coisas superficiais e egoístas. O crente investe apenas em material de estudo e edificação. Ah, e em congressos e eventos onde possa ser edificado.

O crente é reto, firme em seu posicionamento, não negocia com que é errado. O meia-boca é incompreensível. O meia-boca despreza os outros. O crente, como diz a Bíblia, trata com honra apenas os que merecem ser tratados de tal forma.

Conclusão: nada disso tem a menor importância. Nada disso tem a ver com Jesus e com o cristianismo de amor que ele ensinou.

Conheço um artista de rua muito dedicado a causas sociais, que se esforça para colaborar com crianças e jovens que não tem onde morar. Dedica-se exemplarmente a família. A sua e a do cônjuge. Suas festas de Natal são as melhores. Ele é alguém que, visivelmente, transborda amor.Ele é gay.

Afinal, quem é cristão e quem não é?

Eduardo Dorneles
Enviado por Eduardo Dorneles em 03/07/2012
Reeditado em 03/07/2012
Código do texto: T3758630
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