gestos

Havia estrelícias no jardim de entrada da casa verde, flores várias, rasteiras e a grama verde bem cuidada. Um bolero vinha do interior de algum quarto que não me foi possível perceber. A sala era fria, calma e me acolhia. O branco das paredes internas contrastava com o verde lá de fora. Uma paisagem limpa, ali onde eu estava. O chão limpo, o móvel vazio de estrelismos, limpo, e os olhos da americana que me recebeu também me pareceram limpos.

Ela me disse um emaranhado de palavras que não pude entender sequer as vírgulas. Notou que eu me espantara e segurou minha mão com firmeza. Depois me sorriu e me deu um forte abraço.

Que escolas ensinam tal linguagem? Que diplomas nos fariam entender? Nenhum ensino, nada. O mais catedrático dos homens, o superior, o dourado, o que tudo deve saber, não me saberia entender melhor aquela forma de dizer.

Em qualquer língua, em qualquer pátria, sob qualquer sol; doente, são, aflito, amigo, bandido, irmão: eu saberia traduzir aqueles gestos. Cada letra daqueles gestos. O sentimento mágico, a vibração explícita de bem querer uma pessoa de bem.

E mais amei as estrelícias e as flores rasteiras, a grama verde e todos os gestos do resto daquele meu dia.

Capiau da roça
Enviado por Capiau da roça em 03/07/2012
Reeditado em 01/08/2012
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