gestos
Havia estrelícias no jardim de entrada da casa verde, flores várias, rasteiras e a grama verde bem cuidada. Um bolero vinha do interior de algum quarto que não me foi possível perceber. A sala era fria, calma e me acolhia. O branco das paredes internas contrastava com o verde lá de fora. Uma paisagem limpa, ali onde eu estava. O chão limpo, o móvel vazio de estrelismos, limpo, e os olhos da americana que me recebeu também me pareceram limpos.
Ela me disse um emaranhado de palavras que não pude entender sequer as vírgulas. Notou que eu me espantara e segurou minha mão com firmeza. Depois me sorriu e me deu um forte abraço.
Que escolas ensinam tal linguagem? Que diplomas nos fariam entender? Nenhum ensino, nada. O mais catedrático dos homens, o superior, o dourado, o que tudo deve saber, não me saberia entender melhor aquela forma de dizer.
Em qualquer língua, em qualquer pátria, sob qualquer sol; doente, são, aflito, amigo, bandido, irmão: eu saberia traduzir aqueles gestos. Cada letra daqueles gestos. O sentimento mágico, a vibração explícita de bem querer uma pessoa de bem.
E mais amei as estrelícias e as flores rasteiras, a grama verde e todos os gestos do resto daquele meu dia.