SORVENDO A MORTE AOS GOLES

Tu podes pegar o copo à tua frente. Despreocupadamente, sem pensar, tu o levas à boca e sorve, aos goles, o fel que, ao teu paladar sedento, se assemelha ao manjar dos deuses. Tu podes repetir e mil vezes fazer o mesmo gesto por dias, meses e anos a fio. Por que não farias isso? Afinal és dono dos teus atos, tens livre-arbítrio e pagas por esse prazer. Por que deixarias desse prazer fugaz que embota tuas idéias e te leva para um mundo irreal, desnudo das aflições e preocupações da vida? Não pedes nada a ninguém, o movimento do ir e vir dos braços, da mão levando o copo à boca é teu. Afinal tiveste a graça de nasceres com um corpo perfeito! Teus braços e mãos se estendem sem esforço, naturalmente, e teus pés te conduzem pelos caminhos que quiseres. Teu corpo saudável a tudo resiste!

Resiste? Sim, resiste feliz aos primeiros goles, nos primeiros anos e até por anos a fio. Até começarem os problemas! Que não começam de repente. Vão chegando devagarinho, sorrateiramente, sem alarde. E um dia tu te dás conta que estás caindo num poço sem fundo e, muitas vezes, sem chance de retorno. Porque cair é fácil; difícil é se equilibrar na corda para iniciar a subida de volta. Quando acordares do sonho traiçoeiro, só tens duas opções: permanecer nas águas turvas que te engolem dia a dia ou aceitar as mãos que se estendem em tua direção. Se aceitares ajuda, tens chances grandes de interromperes os repetitivos gestos em direção ao copo. Se optares por continuar, não te esqueças: o álcool é traiçoeiro, progressivo e fatal. Sorver a morte aos goles é decisão tua, somente tua...

Eu aceitei ajuda e venci a batalha contra o alcoolismo!

Giustina
Enviado por Giustina em 03/07/2012
Reeditado em 16/08/2014
Código do texto: T3758039
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