Telefone sem fio...

Tudo aconteceu por causa de um pedido de casamento extraviado pelos canais de ligação da terra com o céu... O pedido de casamento foi feito pela Fabiana para a sua amiga e comadre solteirona, Mariana.

O pedido foi direcionado primeiramente para o Santo António de Pádua, também conhecido como: Santo António de Lisboa, o padroeiro das encalhadas. Após, uma longa espera e vendo que os pedidos para o Antônio de Pádua tinham uma fila muito longa, a comadre faz ressurgir das cinzas, como uma fênix, outro Antônio, este conhecido pela colônia italiana: Santo Antônio de Categeró.

“Mariana vou pedir para Santo Antônio de Categeró tenho certeza, que por ter menos pedidos de casamentos, ele, vai realizar o milagre com maior rapidez.”

“Fabiana, nunca ouvi falar deste Antônio!”

“Não se preocupe, amiga, por ser o santo dos pobres, como o seu xará de Lisboa, ele, deve atender pedido de uma solteirona, com certeza!”

Pedido feito começa a pipocar pretendentes para Mariana, escolher. E, deste modo, o seu coração se apaixona. O “Escolhido” recebe o aval de Fabiana e das suas amigas.

De repente, algo inesperado acontece... Você se lembra daquela brincadeira do “telefone sem fio...” Vou refrescar a sua memória!

Funciona desta maneira: numa roda de muitas pessoas, se tiver mais pessoas à brincadeira fica mais engraçada, uma pessoa (a primeira) inventa uma palavra (não conta para ninguém do grupo, mas escreve a palavra em um papel) e, fala nos ouvidos de outra que estiver próxima. Assim, o próximo fala para o outro..., até chegar ao último. Quando a palavra chegar a última pessoa essa deve falar: o que ouviu em voz alta. Quase sempre, o resultado é desastroso e engraçado, a palavra se modifica ao passar de pessoa para pessoa e vai chegar totalmente modificada no destino.

A ligação com Categeró foi um desastre... Verdadeiro telefone sem fio!

Dentre os pretendentes um se destaca... Seu nome, Antônio! Conhecido na cidade por falar e gesticular, enquanto anda, frases sem sentido, ou, desconectadas. Ele, se apaixona por Mariana e não a deixa em paz! Dia e noite ronda a sua casa declarando seu amor.

Insuportável, se torna a situação.

Mariana temendo opta por ficar mais em casa, sente-se mais segura!

Antônio, então, começa a perseguir os amigos da moça, a fim de mandar recados e presentes para Mariana.

“Mariana, o Antônio mostra uma deficiência psicológica, percebo que, seus pensamentos são desorganizados, além de um afeto inapropriado, riso insólito, bobice, infantilidade, tudo isso, culminado por delírios e alucinações transitórias. Ele me apavora!

“Fabiana, por isso, eu tenho receio de sair de casa!”

As amigas se encontram e depois de um longo bate papo, Mariana, resolve não aparecer na noite da festa literária, coordenada por Fabiana.

“Amiga, será que ele vai aparecer por lá!?”

“Espere e verá!”

Os convidados e participantes tomam seus lugares e o sarau inicia. Tudo corria bem, até que..., o Toninho aparece totalmente, surtado. Falando alto e desconectado. Um ou outro participante pede silêncio... ele, silencia por segundos e reinicia o falatório. Vez ou outra sai e vai até a rua e fica falando por lá.

No final, Fabiana ao sair com o marido é abordado por Antonio que entrega para eles uma sacola pesada.

“Entregue pra ela... presentes... gosto dela, gosto dela... presentes... gosto de pedras, farofa, flores...”

O casal guarda a sacola no porta malas do carro.

Dois dias se passam e Juvenal entra com a sacola pesada. Venha ver os presentes enviados por Antônio á sua amiga.

Cada coisa tirada da sacola se tornava uma surpresa... Então, Fabiana manda um e-mail para a amiga contando o fato.

“O Antônio (que não é o de Pádua e nem o de Catigeró) apareceu no Sarau bem surtado e esperou a gente sair para dar para o Juvenal, vários presentes para você, com um cartão apaixonado, dizendo: que te ama e que a espera por toda a vida (tudo, meio sem nexo, pra não falar sem nexo por inteiro), junto, com isto, numa sacola, ele entregou: um vaso com rosas murchas, uma rapadura, um saco de farofa, dois cachimbos (um pra você e o outro pro seu futuro marido), desculpe Fabiana, mas, eu estou aqui escrevendo e morrendo de rir com a situação, que nos coube... (Será que foi castigo pelas minhas orações... mas, se não fossem elas, você não estaria com este seu noivo bonitão, agora, não é mesmo?. Amiga, me permita dizer que, vou escrever uma crônica com o acontecido...

O Juvenal disse: que Toninho está totalmente biruta. Estou lhe enviando por e-mail, os seus presentes no formato de fotos... mas... o que devo fazer com os presentes originais?

Ah! Eu pensei em dar tudo para os pedreiros, daqui da vizinhança, que vieram do nordeste..., ah! esqueci de escrever que a rapadura é da cor amarela igual ao de coco de nenê, com diarréia, além de um vidro de leite de coco empedrado, Toninho, também a presenteou com um saco de pedregulho que é “pra você por no seu jardim, pros gatos urinarem neles”, o cachimbo veio sem o fumo, ao invés disso, veio à farinha...

Procurei no Google algumas fotos de: rapadura, flor seca, cachimbo, pedregulhos, vidro de leite de coco, e, enviei para Fabiana com o recado.