Objetos em nossa vida

Fomos visitar a exposição dos Dinossauros da Patagônia, que esteve no shopping Morumbi em São Paulo e por distração entramos no estacionamento do Market Place, do outro lado da rua e precisamos atravessar a avenida.

Para irmos, atravessamos pela passarela que liga os dois prédios, na volta meu marido sugeriu atravessar pela rua mesmo porque saímos por uma porta antes da passarela, como era uma grande avenida, as crianças ficaram afoitas para atravessar, encarando como grande aventura e perigo...de fato, meu filho mais velho até fez essa sábia observação, que nossa atitude não havia sido “politicamente correta”, porque não usamos a passarela.

Lá no shopping em questão, antes de chegarmos ao espaço reservado, passamos por inúmeras lojas, muitos corredores preenchidos com belas vitrines, de forma que meu filho menor que nunca havia ido aquele shopping, reparou o quão grande era e o classificou de “chique”, e ele tem apenas cinco anos!

Tal observação me despertou para a questão do espaço que os objetos têm atualmente em nossas vidas e que mesmo uma pequena criança consegue discriminar sobre eles e obviamente desejá-los. Ao chegarmos à exposição dos Dinossauros, ficaram encantados com os esqueletos, mas observei que meu filho mais velho buscou fotografar e buscar informações sobre cada animal ali representado registrando tudo. Até chamei a atenção para que olhasse mais de verdade e fotografasse menos.

Fotografar é outro aspecto muito comum hoje em dia, com as máquinas digitais e celulares, não apenas fotografamos acontecimentos ou registramos momentos, mas se estabeleceu uma forma de fixar o que vemos, aquilo que estava frente aos nossos olhos, deixando muitas vezes de viver “o agora” para “ver depois nas fotos”.

A exposição era pequena e logo se desinteressaram, querendo retornar ao shopping, para continuar a ver uma exposição mais atraente...as lojas.

Conseguimos olhar muito, deixei-os livre para olhar o quanto quisessem, entraram em todas as lojas de brinquedo, pediram muito, queriam aqueles objetos todos, mas, sabendo que nada seria comprado, olharam , olharam tanto que se cansaram, pediram para comer algo, conversamos sobre as coisas novas e diferentes que vimos e fomos embora. Voltaram dormindo e no outro dia, o que mais se lembraram ,foi a aventura e o medo de atravessar “aquela avenidona”.(caipira é assim mesmo!!!)

Mas, por que será que os objetos despertam tanto interesse em nós?Por que essa necessidade constante de fixar o que vemos (fotografar objetos, por exemplo) Poderia refletir como sendo do humano “o tal desejar”, “o tal querer”. Outros poderiam dizer que “estamos num mundo consumista que estimula o TER”, então até as fotos são uma forma de TER; de fato, deve ser tudo isso junto e daí me recordei que outro dia, numa pesquisa encontrei ao acaso o significado da palavra OBJETO e como sou apaixonada pela etmologia das palavras, fiquei a refletir...

OBJETO é palavra originária do latim que significa “ obiectum, significa atirado adiante”.Etmologicamente seria o que é posto diante. O correspondente alemão “Gegenstand” apresenta mesma significação “o que está diante, em frente”. Desta forma, a terminologia filosófica rigorosa percebe “uma relação a alguém, em face de quem o objeto se encontra” e não como uso comum “como simples sinônimo de coisa”.

Antes da Era da Imagem, o homem só conhecia aquilo que de fato estava “diante de si”, dessa forma, seu mundo se restringia a seu habitat, e só saberia de coisas distintas se alguém trouxesse ou então se ele se deslocasse para outro ambiente. Quadros eram raridades caras e os registros de fatos ou eventos se faziam mais da forma oral do que visual.

Após o invento da fotografia o homem passou a conhecer através das imagens fixadas num papel pessoas, fatos e objetos que nem sempre teria acesso direto, mas que estando diante dele, tornava parte de seu mundo....assim, o mundo cresceu para cada sujeito, que deixou de conhecer e desejar apenas o que fisicamente estava diante de seus olhos. Passou-se a saber de coisas e pessoas que não estava ao seu redor, mas apenas diante de seus olhos...O mundo até então mais vivido, passou a ser mais visto e despertou no homem, sujeito do desejo, poder desejar ainda mais....

Podemos dizer que hoje a Terra encontra –se pequena; frente aos nossos olhos diariamente vemos tudo que acontece no mundo, vidas, mortes, lançamentos, acontecimentos “ao vivo e em cores”, ou seja estamos num mundo OBJETO, sempre diante de nós.Como então administrar isso em nossas vidas, não nos esquecendo que não somos só sujeitos que desejam objetos, pois desejamos SER também, SER feliz, SER respeitado, SER amado e porque não dizer SER desejado?

Não sei exatamente, mas tenho acredito que de maneira simplista ,seria apenas fechar os olhos, não de fato, mas mentalmente, não se deixando arrastar por tantas informações e vitrines.

Mas acredito que se buscamos de fato “a tal felicidade” ou, como eu prefiro pensar,‘ sermos mais gente que vive e não apenas adquire”,precisamos assumir nossos desejos reais , aqueles que estão dentro de nós e talvez por isso sejam tão dificies de encontrar e saciar, ficando mais fácil tranferir para os OBJETOS, que estão ali... tão perto,diante de nossos olhos...mas na realidade longe de nosso coração.

E aí me lembro do que ficou marcado para meus filhos daquele passeio,que foi experiência de atravessar perigosamente uma avenida e não tantos objetos que ora viram e desejaram e que se tivessem sido adquiridos teriam sido rapidamente esquecidos!

Os objetos estão aí para nos servir (bem diante de nós) e não o contrário...pensemos nisso!

Susana Bueno
Enviado por Susana Bueno em 02/07/2012
Código do texto: T3756358
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