ENGANAR E SER ENGANADO
Leio texto de um recantista sobre o tema, “O que acaba comigo é ver alguém ser enganado ou permitindo ser...”.
O mundo vive em torno de sermos ou não enganados. Basta dizer que grande margem dos conflitos de interesses situa-se em ter sido enganada uma pessoa, muitas vezes premeditadamente, como se diz, adredemente.
O que sobra sem ser enganado premeditadamente ocorre por erro ou circunstâncias alheias às vontades das pessoas. Esse o centro em que gira o mundo, em todos os convívios, acertos, contratos de variadas espécies.
Ser enganado por erro é desculpável e exculpável. Enganar pretendendo realizar, não; a isso se chama enganar intencionalmente. Enganar é projeção da falsidade, da mentira, de negativar uma coisa ou conduta por vontade própria, consciente.
O recantista diz com absoluta razão, que fica altamente incomodado com as pessoas que são enganadas e aceitam assim ficarem, digamos, passam recibo. Fiz comentário em seu texto que não só me incomoda, como fico revoltado.
Mas bom que se diga, que nada temos com a vida dos outros, e sendo um parente ou familiar tentamos interferir com tranquilidade. Sendo pessoa próxima, mas sem laços afetivos familiares devemos somente assistir, embora incomodados ou revoltados. Já tentei intervir com palavras e consideração; não dá certo, desgasta.
E os enganados (as) parecem que gostam, digamos que vira mania, pois é coisa de maníaco, ser enganado (a), passado(a) no “fio da agulha” e deixar correr, por vezes uma vida inteira, infeliz, jogar fora uma vida integral, que não volta, exemplo: me conta sua mentira que estou aberto (a) a ouvir, e pode contar sempre, ou seja, você está querendo ouvir a mentira, que é a sua verdade (tristemente, covardemente por falta de condições de reação, como diz o recantista, miseravelmente, pois é coisa de miserável do espírito), até porque sabe que não tem solução, alternativa.
Temos dois doentes, quem engana e o que “gosta” ( por não ter alternativa) de ser enganado (a).
Já vi muita coisa nesse sentido, pessoas fracas renunciarem às suas vidas sendo sempre enganadas, ouvindo promessas descumpridas, sendo traídas, desassistidas quando poderiam estar melhores, material e emocionalmente, viver uma vida verdadeira segundo suas legítimas vontades. Mas são escolhas feitas pelas pessoas, normalmente de personalidades fracas e sendo dependentes de algo ou alguma coisa, mesmo que quem engana e desassiste seja fraco também.
Conheço pessoas assim, sofridas e silentes, e armazenando seus sofrimentos sem estourarem, sem se queixarem, as vezes confidenciam seus dissabores, suas vidas descoloridas, suas carências e vontades abortadas, enganadas sempre. Tive inclusive uma familiar assim. Nada se pode fazer, cada um tem seu destino e suas fraquezas, por vezes muito mais fracas que seus enganadores, também frágeis, pois quem engana mente, e o mentiroso é o maior dos fracos, se defende de uma vida atormentada e doente.