CONTO 3 - DESTINO......

Caio, com dezoito anos, vai trabalhar contra a vontade do pai, queria que estudasse e só. Mas a inquietude de Caio queria ter independência maior, mesmo que com pouco dinheiro no bolso. E foi ser “barnabé” do serviço público, a pior condição, municipal, lhe arranjaram a nomeação, seria o mais humilde servidor público, e assim ganhando pouco.

Seu pai era poderoso, mas nada pedia a ninguém, não queria dever favores a políticos, dizia. Era época de nomeação livre para ingresso em serviço público, bastava a nomeação e a força do “QI”, quem indicasse; o pai de Caio tinha essa força. Era fácil para o pai de Caio fazê-lo fiscal de rendas, o mais almejado cargo, como muitos de seus amigos eram diante de seus pais terem trânsito e influência nos governos.

O pai de Caio tinha razão. Em pouco tempo trancou a matrícula no colégio em que foi estudar de noite para poder trabalhar. Dois anos assim, só farra, motos, carros, Copacabana e seus inferninhos. Acordava as onze horas e ia dar um mergulho passando por parque perto de sua casa. Após ia para o trabalho, seis horas, de uma até sete, em um hospital público municipal, onde pegava fichas dos doentes no controle médico, anotava o necessário a as colocava na mesa dos médicos por ordem de distribuição no atendimento.

Quando passava pelo parque perto de sua casa, por vezes cruzava com uma moça muito bonita voltando do colégio. Ela morava perto de seu primo, quatro quarteirões de sua casa, e Caio conhecia seus irmãos, três.

Sentia uma coisa estranha quando ela passava, não entendia o que era, como um sinal vindo não sabia de onde, como a martelar que ela representaria algo diferente na sua vida, o que acontecia algumas vezes. Vinha para o pensamento nebulosamente, mas vinha. As vezes ela passava e depois de passar Caio parava e ficava a vê-la distanciar-se.

Nunca a viu nos lugares da moda. Nem estava a fim dela. Sabia que era uma moça como se dizia “de família” e Caio só gostava da gandaia.

Anos após, Caio já com vinte e cinco anos, tinha voltado a fazer seu curso pela manhã, e já estava no fim da faculdade. Arrumou e organizou sua vida, já trabalhava na sua profissão.

Voltando do carnaval, dos embalos que se iniciavam nos antecedentes bailes carnavalescos no Rio, e estando em Teresópolis, já esgotado na segunda-feira de carnaval, resolveu voltar para casa. Cansado dorme a tarde inteira. Pela noite resolve ir no Clube onde frequentava a piscina, e os bailes noturnos eram puramente familiares. Lá chegando viu dançando aquela moça bonita com quem cruzava no parque anos atrás, e lembrou de seus amigos que diziam: você precisa se relacionar com uma moça “de família”. Caio flertou com ela que aceitou os olhares. Se aproximou do salão de dança, não gostava de dançar, principalmente carnaval, ia aos bailes só para paquerar e se dar bem.

No intervalo da música se aproximou da moça, e iniciou-se uma conversa que acabou em encontro no dia seguinte. Em um ano estavam casados. Aquela forte impressão que sentia quando passava pela moça acontecia também com ela, confidenciou a ele mais tarde. Uma sensação que fazia eclodir dentro dos pensamentos de ambos que algo ocorreria com eles de importante algum dia. E ocorreu, se casaram. Mais estranho ainda era que Caio e a moça tinham a mesma ascendência da Europa, e seus avós, saíram de suas cidades no fim dos anos 1800, distando uma da outra vinte quilômetros, vindo a radicarem-se no Brasil onde seus netos, Caio e sua esposa, moravam próximos e vieram a constituir família.

Estava escrito no firmamento....destino.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 01/07/2012
Reeditado em 29/06/2018
Código do texto: T3754992
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