PAI, ESTOU AQUI ! ...
Meu pai era proprietário de uma exígua embarcação. Chamava-se Canarinho - e suas cores verdes e amarelas se faziam tremular nas águas barrentas do Amazonas e Tapajós do nosso querido Pará.
Certo dia, empreendemos uma viagem à localidade de Vista Alegre, às proximidades da cidade de Breves, cortada por ilhas e riachos.
De retorno, lá pelas tantas da madrugada - eu, maquinista de primeira viagem, atrapalhei-me no sistema e não deu outra - tudo errado e a máquina parou. Papai, ainda, deixou o comando à sala de máquina - mas não houve mesmo jeito - e ali improvisamos remos e tocamos o barco em busca de um direcionamento ...
Experiente e abalizado em viagens nos rios amazônicos, logo sinaliza o mastro com um pequeno farol à querosene - o que nos livrou em fração de minutos de uma tragédia no embate com navio de grande porte que cruzava o estreito de Breves naquela madrugada ...
Às proximidades do Trapiche Municipal de Breves, tentando esbanjar o calor jovial, acabei por escorregar, desabando nas águas geladas da noite sob os olhares atentos de meu pai, que já se posicionava a me prestar socorro - quando em tempo hábil e em alta velocidade, voltei à flor d'água, gritando à plenos pulmões - PAI, EU ESTOU AQUI !
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Emociona-me muito a narrativa do fato - quando me faz lembrar que hoje as coisas se inverteram ... e meu pai, se comigo falasse, certamente me diria :
FILHO, NÃO MAIS ESTOU AQUI !!! ...