CHÁCARA FLORA

Ir à chácara do meu tio Renan é mais que um divertido passeio. É uma aventura campestre. Ao despertar-me ontem às 9h, ele me falou ao telefone: - “Estejam prontos; dentro de quarenta minutos passarei aí para pegá-los”. Além de mim, referia-se aos meus irmãos Kalil (23) e Cauã (19). A pontualidade britânica do meu tio o fez chegar no tempo previsto pelo nosso trio, que ele batizou de KKK. Seria um quarteto se Kleber, o mais velho e casado, estivesse conosco.

A chácara fica nas imediações de Luziânia-GO. O percurso é feito em pouco mais de uma hora e meia. São muitos hectares em que diversificada fauna e flora ocupam toda a extensão de vales e montes. A casa grande tem um alpendre, com redes estendidas para um cochilo após o almoço ou aquela prosa recheada de “causus” engraçados. Nessas horas não falta também uma dupla caipira. Alguns a sugerir aquela moda de viola preferida. “Ê mundão sem porteira!”- dizem alguns exaltados. Eu acho as letras curiosíssimas, engraçadas, quando não trágicas, mas sempre boas de ouvir. “Vá Pro Inferno Com Seu Amor”. Sinistro, título e toda a composição. Sério, eu prestava atenção; Kalil, rindo escancaradamente. Até pediu bis pra ouvir novamente: {...}" Onde eu andei, você andou/Onde eu jurei, você jurou /Onde eu chorei, você chorou/ Minha proposta você não aceitou//Amei demais, você abusou/ Meu coração você maltratou/Tudo que fiz você zombou/ Do que eu era nem sei quem sou/Vá pro inferno com seu amor {...}".

Tio Renan ia à frente, e nos mostrava tudo. Algumas vacas leiteiras, cavalos pastando, criação de porcos, galinhas, pássaros soltos, sobrevoando as árvores. As plantações, de que ele tanto se orgulha, pois muita coisa se produz ali. Um convite às águas correntes no riacho límpido, ladeado por laranjeiras e bananeiras ali próximas. A grama bem cuidada do campinho de pelada, onde a gente se juntou aos moleques vizinhos. Depois o banho no riacho; uma pequena queda d’água rolando entre as pedras. Kalil mais afoito; eu de olho no Kauã, que não sabe nadar. Alguns moleques pelados, tudo natural para eles. O cheiro de pinga no ar. Preferimos uma cervejinha moderadamente. O almoço às 13h. Cardápio variado, desde o tradicional frango com pequi ao churrasco onde a picanha na brasa ardia na vala. O suco de siriguela, delicioso, mas o doce de batata com coco era uma tentação na compoteira.

Tio Renan e sua mulher Flora se esmerando em gentilezas. Ela, cujo nome o marido denominou a chácara, falava-me sorrindo: “coma mais Kaio, sirva-se à vontade; olhe este purê está uma delícia, experimente. Kalil gostou do frango com pequi? Ô Kauã, meu lindo, fiz esse doce pensando em você, meu filho. Ah, que pena o Kleber não ter vindo!"

Final da tarde, depois de percorrermos toda a chácara andando a cavalo, estávamos de volta. Tio Renan com o porta malas do carro abarrotado. É empresário bem sucedido, mas muito afinado com o campo. Não se diz fazendeiro diante daquelas terras que ele chama de chácara, onde a flora apresenta todo um encantamento ecológico, e a Flora, mulher dele, também se sente feliz.

Kaiomonteverde
Enviado por Kaiomonteverde em 01/07/2012
Reeditado em 09/07/2012
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