VIVENDO COM SIMPLICIDADE
Há cerca de uns vinte dias, eu saí da minha cidade, que fica no Estado Rio Grande do Norte, e fui a uma outra cidade, distante cerca de 250 quilômetros, que fica no Estado vizinho do Ceará, para visitar o meu filho, que se dedica, integralmente, à vida missionária, tendo, agora, feito a sua partilha, na capital daquele estado.
Enquanto o carro corria estrada à frente, eu ia me perguntando como são misteriosos os caminhos do Nosso Senhor. Como o Seu chamamento nos surpreende, desperta a admiração e, ao mesmo tempo, nos deixa perplexos.
Basta um pouco de reflexão para perceber que o ser humano, diante do mundo imediatista em que vive – ditado pelo consumismo desenfreado e a ganância pelo TER, acaba por internalizar essa cultura e passa a buscar, nas coisas materiais, o prazer e o poder, para a sua lista de valores pessoais, esquecendo-se que, por não ter limites para as suas possibilidades, perde, justamente, o que de mais sagrado e precioso o próprio ser tem na vida: a liberdade de espírito.
E é por causa dessa cultura, que prioriza a busca pelas coisas efêmeras e supérfluas – e nos é introjetada desde que nos entendemos por gente, que crescemos em constantes disputas por espaços onde nossos objetivos estão todos voltados para a ascensão profissional, muitas vezes, até deixando de lado a ética e os valores morais que nos foram ensinados. Nesta disputa acirrada, o que menos temos é tempo para equilibrarmos nossas forças interiores. Por causa disso, tudo que nos leva para o lado da simplicidade da vida é descartado, por não ser algo suficientemente bom para o nosso estilo de viver. Inclusive, viver em comunhão com a natureza, retirando de suas entranhas somente o necessário, sem poluí-la ou devastá-la (como fazem os animais de outras espécies que não a nossa) é considerado, tendo como parâmetro as maravilhas deste mundo contemporâneo, como sinônimo de ser fracassado, de não ter ambição e, devido a isso, não ter nenhuma perspectiva de galgar os degraus do sucesso.
E não adianta dizer o contrário! É assim mesmo. Adaptamo-nos às exigências da sociedade em que vivemos, embora percebamos que nos falta alguma coisa para que nos completemos como cidadãos plenos e, principalmente, como criaturas semelhantes ao Pai. E isso que nos falta é, precisamente, aquilo que deixamos de praticar durante uma boa parte de nossa vida, pois, nesse período, estamos empenhados em conseguir dinheiro para adquirirmos bens materiais, artigos de luxo e até para a própria luxúria.
Por isso é que nos surpreendemos quando alguém – principalmente um jovem, possivelmente com um futuro profissional promissor, nascido e criado longe das dificuldades, acostumado com o conforto e a segurança de um lar – chega para nós e diz que vai, a partir daquele momento, viver para evangelizar e que tudo o que ele fizer – dali por diante – será da vontade do Pai, optando, portanto, por viver uma vida de simplicidade material.
O mais lógico seria dar graças a Deus. Entretanto, o primeiro pensamento que nos chega é de que tudo isso é fruto de uma bem elaborada trama de aliciação, que esse jovem está sendo vítima de uma lavagem cerebral, que os desígnios de Deus não estão presentes na sua decisão e, ainda, recusamo-nos a aceitar que a fé e o desejo de servir ao próximo, por livre e espontânea vontade, podem prevalecer.
O carro finalmente chegou ao seu destino. A recepção foi inesquecível. Um grupo de jovens nos esperava (a mim, a minha esposa e a minha filha). Lá dentro, músicas de louvor para nos dar as boas-vindas. Cada um daqueles jovens, que vieram nos abraçar, trazia a certeza de que viver para proporcionar o bem-estar do próximo, passando mensagens de fé e de esperança, vale a pena.
Lá dentro, a simplicidade e a harmonia fraternal entre aqueles jovens, vindos de todo o Brasil, mostrava que a paz e a felicidade são companhias constantes daquele lar. Cada missionário tinha a mesma história para contar: Jesus o tinha chamado. Para eles, evangelizar, levar a boa nova e servir é o propósito de vida que cada um escolheu viver. Na verdade, disseram, a vida não mais nos pertence, tudo que fazemos, fazemos por vontade dEle.
Olhei para o meu filho. Ele me abraçou e me agradeceu. Disse-me que estava muito feliz por estar ali, servindo e evangelizando. Disse-me que não precisa de mais nada, pois o que Deus providencia, todos os dias, para todos eles, é o suficiente para serem felizes.
No final do dia, a despedida da visita. Apesar do aperto no peito (e do choro coletivo, assim que o carro dobrou a primeira esquina da rua em que deixamos o nosso sangue), da saudade que já se fazia presente, a certeza de que Deus opera milagres foi mais forte e nos fortaleceu em nosso retorno. Deus abençoe e ilumine a todos da sua comunidade. Nós o amamos, meu filho.
Obs. Foto de chegada na Comunidade Shalom, em Fortaleza/CE, em 07/06/12.
Há cerca de uns vinte dias, eu saí da minha cidade, que fica no Estado Rio Grande do Norte, e fui a uma outra cidade, distante cerca de 250 quilômetros, que fica no Estado vizinho do Ceará, para visitar o meu filho, que se dedica, integralmente, à vida missionária, tendo, agora, feito a sua partilha, na capital daquele estado.
Enquanto o carro corria estrada à frente, eu ia me perguntando como são misteriosos os caminhos do Nosso Senhor. Como o Seu chamamento nos surpreende, desperta a admiração e, ao mesmo tempo, nos deixa perplexos.
Basta um pouco de reflexão para perceber que o ser humano, diante do mundo imediatista em que vive – ditado pelo consumismo desenfreado e a ganância pelo TER, acaba por internalizar essa cultura e passa a buscar, nas coisas materiais, o prazer e o poder, para a sua lista de valores pessoais, esquecendo-se que, por não ter limites para as suas possibilidades, perde, justamente, o que de mais sagrado e precioso o próprio ser tem na vida: a liberdade de espírito.
E é por causa dessa cultura, que prioriza a busca pelas coisas efêmeras e supérfluas – e nos é introjetada desde que nos entendemos por gente, que crescemos em constantes disputas por espaços onde nossos objetivos estão todos voltados para a ascensão profissional, muitas vezes, até deixando de lado a ética e os valores morais que nos foram ensinados. Nesta disputa acirrada, o que menos temos é tempo para equilibrarmos nossas forças interiores. Por causa disso, tudo que nos leva para o lado da simplicidade da vida é descartado, por não ser algo suficientemente bom para o nosso estilo de viver. Inclusive, viver em comunhão com a natureza, retirando de suas entranhas somente o necessário, sem poluí-la ou devastá-la (como fazem os animais de outras espécies que não a nossa) é considerado, tendo como parâmetro as maravilhas deste mundo contemporâneo, como sinônimo de ser fracassado, de não ter ambição e, devido a isso, não ter nenhuma perspectiva de galgar os degraus do sucesso.
E não adianta dizer o contrário! É assim mesmo. Adaptamo-nos às exigências da sociedade em que vivemos, embora percebamos que nos falta alguma coisa para que nos completemos como cidadãos plenos e, principalmente, como criaturas semelhantes ao Pai. E isso que nos falta é, precisamente, aquilo que deixamos de praticar durante uma boa parte de nossa vida, pois, nesse período, estamos empenhados em conseguir dinheiro para adquirirmos bens materiais, artigos de luxo e até para a própria luxúria.
Por isso é que nos surpreendemos quando alguém – principalmente um jovem, possivelmente com um futuro profissional promissor, nascido e criado longe das dificuldades, acostumado com o conforto e a segurança de um lar – chega para nós e diz que vai, a partir daquele momento, viver para evangelizar e que tudo o que ele fizer – dali por diante – será da vontade do Pai, optando, portanto, por viver uma vida de simplicidade material.
O mais lógico seria dar graças a Deus. Entretanto, o primeiro pensamento que nos chega é de que tudo isso é fruto de uma bem elaborada trama de aliciação, que esse jovem está sendo vítima de uma lavagem cerebral, que os desígnios de Deus não estão presentes na sua decisão e, ainda, recusamo-nos a aceitar que a fé e o desejo de servir ao próximo, por livre e espontânea vontade, podem prevalecer.
O carro finalmente chegou ao seu destino. A recepção foi inesquecível. Um grupo de jovens nos esperava (a mim, a minha esposa e a minha filha). Lá dentro, músicas de louvor para nos dar as boas-vindas. Cada um daqueles jovens, que vieram nos abraçar, trazia a certeza de que viver para proporcionar o bem-estar do próximo, passando mensagens de fé e de esperança, vale a pena.
Lá dentro, a simplicidade e a harmonia fraternal entre aqueles jovens, vindos de todo o Brasil, mostrava que a paz e a felicidade são companhias constantes daquele lar. Cada missionário tinha a mesma história para contar: Jesus o tinha chamado. Para eles, evangelizar, levar a boa nova e servir é o propósito de vida que cada um escolheu viver. Na verdade, disseram, a vida não mais nos pertence, tudo que fazemos, fazemos por vontade dEle.
Olhei para o meu filho. Ele me abraçou e me agradeceu. Disse-me que estava muito feliz por estar ali, servindo e evangelizando. Disse-me que não precisa de mais nada, pois o que Deus providencia, todos os dias, para todos eles, é o suficiente para serem felizes.
No final do dia, a despedida da visita. Apesar do aperto no peito (e do choro coletivo, assim que o carro dobrou a primeira esquina da rua em que deixamos o nosso sangue), da saudade que já se fazia presente, a certeza de que Deus opera milagres foi mais forte e nos fortaleceu em nosso retorno. Deus abençoe e ilumine a todos da sua comunidade. Nós o amamos, meu filho.
Obs. Foto de chegada na Comunidade Shalom, em Fortaleza/CE, em 07/06/12.