Desespero ou ... Coragem?



 Naquela manhã, os jornais e as emissoras de TV noticiavam a maior tragédia da natureza, no Estado do Rio de Janeiro. A região serrana havia sofrido vários desmoronamentos em suas encostas com as fortes chuvas dos últimos dias e a invasão do rio, que de cheio, transbordou e mudou o seu caminho, destruindo pontes e estradas, inundando grande parte da cidade.
 As imagens que a TV exibia da cidade de Teresópolis eram chocantes. As chuvas dos dias anteriores continuaram na noite toda e desciam em avalanches, arrancado árvores e pedras, carregando casas e soterrando pessoas de famílias inteiras.
 Naquele instante mostrava a cena de maior impacto. Uma senhora dentro do que restara do segundo andar de sua casa, com seus dois cães, gritava por socorro. O bloco de casa ia descendo na correnteza da água barrenta. O desespero dela atingia e sensibilizava quem estivesse vendo! Um dos dois rapazes em cima da laje de uma casa ao lado, gritou: “Senhora, vou jogar uma corda. Amarre-a bem, na sua cintura e nas pernas que vamos puxar a senhora. Mas, amarre bem, bem mesmo!” E jogou a corda.
 Os escombros da casa giravam no meio da água, do rio imenso formado. Ela se amarrou direitinho! Não sei como conseguiu! E, segurando um dos seus cães olhou para traz, e viu o outro cão sendo carregado pelas águas. Depois, o dilema dela: Abraçada ao outro cão, não poderia segurar a corda que iria tirá-la dali... E, num gesto impetuoso solta o seu cãozinho gritando: “Ajuda-me, Deus! Socorro!”. E atira-se ao “léu da sorte”, no momento de grande desespero demonstrando imensa coragem, enquanto os rapazes a içavam.
 Pouco a pouco a mulher subia com as duas mãos seguras e com certeza, com a mão de Deus a erguendo, até ao cimo da laje, depois de sair abraçada com seu “salvador” (terreno). Antes mesmo que chegasse ao topo, o que restara de sua casa já havia sido tragada pelas águas...
 Chorei diante da TV. Pensei na hora que, se o ocorrido fosse comigo, certamente eu teria morrido... A salvação de sua vida dependeu da decisão de pular e confiar na força de suas mãos, ao segurar naquela corda suportando o peso do seu corpo.
 Depois, a mulher foi medicada pela equipe de resgate da Defesa Civil e os corajosos homens do Corpo de Bombeiros, sob os aplausos da população que a tudo assistia.
 O rapaz que jogou a corda foi o seu herói e aquela senhora um grande exemplo de coragem.
 Terminei de me arrumar e fui trabalhar e, em minha mente a lembrança daquela imagem inesquecível a me acompanhar pelo resto do dia...

      Iraí Verdan
   Magé, 30/09/2011.