O QUE OS OLHOS NÃO VÊM O CORAÇÃO SENTE

Somos sempre narcisistas diante de um espelho. Quem não para ao olhar a sua imagem refletida?

Eu nunca gostei muito de me ver em espelhos, mas confesso que sempre me olho. E não desgosto totalmente do que vejo.

Se eu pudesse mudar eu mudaria algumas coisas, ou quem sabe até o corpo inteiro. Mudar-me-ia para outro mais belo e mais jovem.

Minha lista de mudanças inclui as olheiras, acentuadas pelo uso contínuo de óculos. As bochechas mandaria tirar fora, elas denunciam o meu parentesco com buldogues. A coluna e os ossos, cansados e alquebrados pelos inúmeros acidentes e pela osteoporose, deixam-me com um andar de tartaruga nas costas.

Algumas pessoas são até bondosas comigo e me elogiam, mas meus olhos não perdoam. Quando eles vêm uma foto minha são impiedosos, chegando a ser cruéis comigo.

Meus olhos são exigentes demais. Não me perdoavam a magreza adolescente. Não me perdoaram a falta de exercícios quando eu poderia ter um corpo mais definido e agora não me perdoam os inúmeros sinais da velhice.

Hoje eu até me acho um pouco melhor do que antes, que em minha juventude, mas quando meus olhos vêm uma foto são cruéis. Eu até já cheguei a pensar em ciúmes, mas eles não perdoam. São implacáveis comigo e com a minha maturidade recente.

Diante do caos que meus olhos apontam em relação ao meu corpo eu tratei de cuidar um pouco mais do meu interior, do meu intelecto, do meu espírito porque lá não alcançam suas críticas, lá ele não pode me depreciar.

Deixei então que meu coração cuidasse do meu interior. Eu penso que ele me ama um pouco mais que meus olhos...

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30.06.12

MÁRIO FEIJÓ
Enviado por MÁRIO FEIJÓ em 30/06/2012
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