Sonhos de tantos, realidade de poucos
Ontem entrei em uma Casa Lotérica para pagar um boleto e, durante os vinte minutos de espera na fila, fiquei observando as pessoas.
Nessa loja existem seis guichês, mas, dois deles são exclusivamente para apostas. As filas para pagamentos de contas estavam grandes, porém, as duas para jogos estavam ENORMES!
Fiquei imaginando que sonhos aquelas pessoas realizariam se, de fato, conseguissem ser premiadas na mega sena, quina ou em qualquer outro tipo de jogo. Talvez estivessem pensando: “Se eu ganhar vou comprar uma casa imensa com jardim e piscina!”, ou, “Se a sorte sorrir para mim vou fazer uma viagem pelo mundo!”, ou, ainda, “Se eu acertar todos os números vou comprar um iate!”. Mas acho que não, elas não estavam pensando em grandes realizações. Considerando a aparência, os trajes, as feições, eram pessoas muito simples, realmente muito pobres, e pobres não tem grandes sonhos. No máximo, os pobres sonham em ganhar um premiozinho (pode ser dividido com centenas de pessoas), sonham com uma casinha, com um terreninho, com um carrinho (pode ser de segunda mão), com um dinheirinho na Poupança, com a compra de uma geladeira, de um sofá, de um televisor e de outras coisinhas para a casa, mas que, ganhando na loteria, poderão pagar à vista (durante a vida toda pagaram em prestações que duravam toda vida). Também sonham com um filho fazendo faculdade, sonham em abrir um pequeno negócio, em ajudar os parentes mais necessitados. Pobres não sonham com glamour, com luxo e ostentação. Pobre sonha pequeno e é por isso que é pobre (li isso num livro de autoajuda, desses que ensinam fórmulas para se alcançar o sucesso).
Já o rico não. Rico pensa grande e sonha grande. Pensa em ficar cada vez mais rico e todo dinheiro que acumula ele investe para que se multiplique sempre mais. Rico não aposta em loteria e, quando o faz, aposta muito, para aumentar as chances de ganhar e, de preferência, sozinho.
Aquelas pessoas que eu vi não têm dinheiro para apostar “direito”. Não têm como pensar numa estratégia, fazer combinações de números, até porque a maioria não tem nem ensino fundamental completo e não aprenderam PA (progressão aritmética), PG (progressão geométrica) e não conhecem a Teoria das Probabilidades.
Senti certa compaixão ao vê-las contando moedas ou notas de dois e cinco reais para pagar os volantes de apostas (muitas talvez nunca tenham visto uma nota de cem reais). Algumas preencheram dois volantes, mas a maioria preencheu somente um. Pode ser até que tenha desinteirado o dinheiro do pãozinho ou do leite só para poder apostar.
Mas sonho é sonho e todos tem direito de sonhar. Seja sonho grande ou pequeno, possível ou impossível, porque a vida precisa de sonhos para ser menos dura e cruel.
Acho difícil que a sorte alcance aquelas pessoas, ou que elas alcancem a sorte, tanto faz, mas, segundo um velho dito popular “quem não arrisca não petisca”. Vai que um dia consigam realmente ganhar! A Griselda não ganhou?! O problema é que a Griselda era personagem de ficção, da novela Fina Estampa. A realidade é bem diferente.
Não posso encerrar esse texto sem confessar que também sou pobre e que, vez ou outra, faço minha fezinha. Entretanto, tenho consciência de que a verdadeira fortuna eu já tenho e nem precisei apostar: é a saúde para poder trabalhar.
Jorgenete Coelho