Fantasma

Ontem vi um fantasma. O mais cético dos descrentes assume que viu um fantasma. Digo-te, amigo, eles não vestem lençóis brancos, eles não têm silhueta transparente, nem arrastam correntes. Não são vultos, são palpáveis. São irreais dentro de sua própria realidade, e assombram-te na tua mente e nas tuas lembranças.

O que ninguém nunca disse ou escreveu é que o fantasma não é um fenômeno sobrenatural. Não é alguém que volta como Poltergeist ou espírito infernal, mas sim alguém que, de tão ausente, torna sua aparição bizarra. E por que então o fantasma é retratado como algo repugnante ou apavorante? Porque geralmente é uma aparição mais que indesejada.

Esse fantasma usava um vestido roxo e apresentava uma silhueta mais ampla do que eu me lembrava. Sua face já não apresentava aquilo de angelical que uma vez já foi. Um rosto para mim já grotesco, deformado, cheio de mágoa, ódio, frustração. Não chamei um exorcista, não fiz nada para combater, não fui entender o motivo de sua aparição, só fiz o que todos fazem quando veem um fantasma. Apavorado, fui embora, para bem longe do passado que eu quero esquecer.

O medo e o ataque nervoso me fizeram sentir vivo. Mais vivo do que eu já estava me sentindo, segui com a minha vida, deixei para trás o que me fazia mal e tentei não deixar a aparição fantasmagórica me afetar demais. Peguei um taxi, tomei um uísque, li um pouco de Veríssimo, me olhei no espelho e enxerguei alguém que sabe bem o que quer, e sabe no que acredita e deixa de acreditar. E tudo aquilo foi só uma prova da nossa humanidade. E o instinto que me fez correr, me aproximou da minha verdadeira natureza. Seguindo minhas necessidades primatas e o álcool na cabeça, me deitei e dormi.

Diego Biagi
Enviado por Diego Biagi em 30/06/2012
Código do texto: T3753033
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