Quem dera fosse...

 
     O dedo ficou trêmulo sobre a tecla do celular, que com apenas um toque excluiria toda a história em mensagens. Todas aquelas mensagens de texto que eu recebi e enviei. Uma história formada em frases pequenas, mas cheias de amor, carinho e promessas. O dedo trêmulo que pairava ali, receoso de tomar a decisão errada e depois, não ter mais como trazer tudo àquilo de volta. Aquilo que antes de dormir eu pego e leio, tentando me confortar na história.

     Quem dera fosse fácil voltar atrás, refazer as coisas, mudar passados ou alterar futuros. Apagar os torpedos é apenas uma parte, é só um pedaço da dor e da perda. É apenas mais um degrau que é demolido, e deixando sobre o espaço apenas um enorme vão, daqueles que temos espaço o suficiente para pularmos, mas que temos medo de cair por algum motivo. Sabemos ser possível alcançar o outro lado, alcançar a paz, mas preferimos ficar ali, pensando se é possível, se conseguiríamos ao pular, emendar as histórias novamente. Vivendo de E SE...

     Não é fácil perder o chão e tudo aquilo em que cremos. Não é fácil. Não é fácil perder as esperanças sobre aquilo que julgávamos certo, correto e forte. Quem dera fosse fácil. Quem dera fosse...  A vida um jogo de computador no melhor estilo The Sims, onde podemos optar por caminhos já sabendo o que virá no futuro, e se der errado, deletamos aquilo e voltamos por outros. Estar longe. Estar perto. Qualquer coisa que opte, já não é mais a mesma coisa.

     Foi-se o tempo em que eu era o único. O tempo em que para minha pessoa eram reservadas as melhores histórias. O tempo em que tudo era dito a mim com tamanha empolgação que eu podia ver o brilho das coisas nas mais doces palavras. Algo inestimável. Algo meu. Precioso. Lindo. Puro. Verdadeiro. Quem dera eu pudesse fazer isso voltar e resgatar todas as coisas esplêndidas dos momentos. Pontos altos. Pontos baixos. Pontos fortes e todos os pontos fracos. Os fracos que nos faziam fortes juntos. Mas o junto hoje se escreve separado.

     Quem dera fosse fácil a maneira de conseguir respostas. De mostrar tão claro quanto números, que a vida só segue se ao seu lado estiver aquele ou aquela que te faz sorrir pela manhã com um torpedo bem humorado, com uma demonstração boba de ciúmes, com uma voz meio diferente. Os donos dos momentos mais comuns, simples e bonitos que surgem em situações inusitadas. Quem dera fosse assim simples, encontrar em palavras o embasamento necessário para tornar tudo convincente, de maneira que tudo que sucedeu a história após o fim, fosse jogado para o alto e o vento carregasse lentamente como poeira. Para longe... Longe... Longe...

     Os abraços com apenas um braço. Os carinhos perto da orelha. Aquelas noites de frio, onde um edredom tomava conta de ambos, e o sono nos unia. Quem dera fossem esses momentos eternos. Quem dera fosse possível te fazer enxergar através de meus olhos, como o mundo é cinza sem a companhia de nós. Como ele perde muito de sua graça, de sua beleza e encanto sem nós unidos por nós. Juntos. Braços dados e seguros contra as piores intempéries que possam surgir contra. Tempestades fracas que fazem surgir sentimentos doloridos e opções equivocadas.

     Quem dera fosse eu que tivesse sumido. Assim, a cabeça estaria no lugar agora, a boca não estaria seca, e a nostalgia não dominaria todas as horas do dia. Lembranças vindas em músicas, filmes, lugares, cheiros, palavras... Quem dera fosse possível deletar tudo isso como se fosse um torpedo, uma história, um filme, um arquivo. Quem dera...

     Quem dera eu não tivesse que viver de quem deras. E através das dores, da saudade e da mágoa, pudesse sentir a realização de um regresso, para trilhar o caminho que um dia se desfez, construir um novo degrau sobre aquele que caiu. E por fim, sentir as mãos se entrelaçando.

Quem dera fosse assim...Quem dera eu soubesse esperar...
 

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 30/06/2012
Código do texto: T3752395
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