A VIDA SERIA MONÓTONA SE OS DIAS FOSSEM IGUAIS
Todas as manhãs os pássaros vêm à minha janela. Gorjeiam entre as árvores e se agitam sobre a marquise disputando espaço com os pombos. O sol ultrapassa a vidraça, entra pela cortina entreaberta, invade o meu quarto, aquece o frio matinal. A vida se movimenta pelos passos apressados e vozes dos transeuntes. Transportes escolares pegando as crianças, agentes do SLU agitando os contêineres; ao ruído das ruas a cidade desperta. Ciclovias e pistas de pedestres estão repletas. A vida seria monótona se os dias fossem iguais.
Cada novo dia tem seu brilho, sua cor, seu cheiro, sua cara dourada ou cinzenta. Cada dia tem seu ritmo no avançar das horas. E a cada dia renascemos com novo ar e a luz do sol, novos rostos e olhares com os quais cruzamos. A vida tem muitas caras, a vida tem muitas vidas. A vida se multiplica.
Daqui vejo o dia lá fora. A vida passa pela minha janela; pelos carros, ônibus, motos e metrô. Eu embarco no trem da vida. No vai-vem cotidiano em várias estações.
Pego o elevador, desço até a garagem. Dou bom dia ao porteiro. A vizinha me acena e sorri. Um cara na esquina me entrega o jornal. Ligo o som do carro, pego a faixa da esquerda, enfrento o trânsito. Sinal fechado. Uma loura me olha à esquerda. À direita, um barbudo me deixa em dúvida. Abre o sinal, arranco a partida. Tudo fica para trás. Chego ao trabalho, o dia prossegue, o fim da tarde traz a noite. Tudo recomeça com um novo amanhecer. Mas nada não é o mesmo, pois o dia é outro e mostra a vida diferente.