Sobre-viver

Estou ficando velha.

Digo, mais cansada.

O dragão que eu enfrentava ontem cheia de disposição, aquele pra quem eu ria e dizia: "vem!", hoje está me ganhando.

Me batendo feio.

É o cansaço.

Emocional.

Acho que quando somos muito jovens, somos muito heróicos.

Somos dispostos a brigar com o mundo pelas coisas.

Somos capazes de dar uma reviravolta só pelo prazer de contrariar.

Me aconteceu isso, assim e assado?

Pois toma! Vou dar um jeito.

E hoje.... quando as tempestades chegam (não aquelas lindas e deliciosas que eu tanto amo, as tempestades da vida mesmo) ao invés de assombrar o mundo com meu espírito indômito.... eu me curvo.

Me dobro.

Sucumbo.

E não quero, veja bem.

Odeio isso.

Odeio não estar otimista.

Odeio minha fraqueza, odeio, odeio!!

Não quero estar tão cansada.

Não quero pensar "de novo?"

Mas também não queria só sobreviver, pôxa!

Cadê o viver??

Será que o universo nos coloca à prova quantas vezes?

Que porra de karma é esse, que eu tenho que mostrar que aguento sempre???

Já não deu? Não tá bom?

A vida pode ser gentil comigo agora?

Porque, na boa, ela não é.

Não se iluda com as minhas histórias de felicidade, de família, de humor.

Isso é tudo que eu escolhi fazer e ser.

Escolhi.

Nada veio de mão beijada.

Nada.

Nada teve a ver com sorte.

Nada.

Nem amor, nem casamento, nem vida familiar. Nada.

Decisões tomadas conscientemente, e muito, muito esforço pras coisas darem certo.

Pra chegar até aqui.

Feliz?

Claro, há felicidade e muita.

O tempo todo.

Mas por que foi escolhido assim.

Foi escolhido sempre olhar o lado bom.

Não importando a merda que desse.

Viver o apesar de....

E aí você envelhece um pouquinho mais e... cansa.

E além de lidar com o problema e com o cansaço, ainda lida com a raiva e a frustração, de não estar reagindo tão bem à situação.

Você se cobra muito?

Eu sim.

Muito, muito, muito.

E quando não reajo de acordo com meus padrões de comportamento, que eu mesma estabeleci, fico puta da vida.

E é isso agora.

Cansaço.

Raiva.

Vontade de reagir, de reagir ao todo, mas faltando força.

Pra expulsar um mau momento.

Com medo dessa temporariedade que tá virando permanência.

E não, o universo não tá dando respiro.

Mas também as coisas não estão tão mais difíceis assim.

O que há é uma combinação de coisas.

Uma baita falta de sorte.

E nós já velhos demais pra continuar a achar graça nela.

Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 28/06/2012
Código do texto: T3750029