Shangri-la
Se o mundo coubesse em uma fatia, para lá todos iriam, onde os pesos se sustentam, o equilíbrio deixa os elementos da gangorra sempre com os olhos nos olhos; mãos dividindo, multiplicam os provedores. A multiplicação dos pães deixaria de ser uma passagem bíblica para protagonizar o cotidiano.
Juntou-se aos peregrinos e partiram para o “horizonte perdido”, ainda haveria de voltar a sentir, haveria de querer; tudo era um sonho em brumas, invisível à curta distância, mas contado em finais de romances de ficção.
Uma trilha acidentada o deixava mais ansioso, fazendo do final buscado, um ideal pleno, uma retribuição às feridas conseguidas nas transposições das barreiras enfrentadas.
-Nunca escalou? A pergunta era fria, se considerada a frágil figura que a formulava.
A vontade de retribuir com um pequeno texto, montado pela ira que a pergunta fomentou, criaria tensão, a grosseria seria inevitável, porém a orientação foi dada em seguida, pela mesma menina que fazia perguntas óbvias, possibilitou a ele, que não era alpinista, transpor aquela barreira e assim lhe foi cerceado o ímpeto de responder rudemente.
-Acredita que nunca parando chegará antes? Nossos limites não se revelam quando exaurimos nossas forças; o sucesso se alcança quando cumprimos racionalmente nossos projetos. E mais uma vez o argumento da invasora de sonhos conteve meu temperamento explosivo; novamente deixei de dar uma resposta, da qual, agora sei, me levaria ao arrependimento.
Isolou-se um momento para sofrer, afinal o sofrimento fazia parte do seu “metabolismo”, e certificou-se de que seria réu permanente daquela mentora que não fora uma opção sua.
-Não procure alcançar a harmonia arrastando consigo tudo que deveria ter sido esquecido; lembre-se: a claridade não tem peso e alumia.
Nunca soube se de alegria ou raiva ...sorriu, de forma leve e compartilhada.
-Pronto, o vale da redenção está à sua frente, não precisará, daqui em diante, mais de um guia; alcance-o...
Então ele percebeu que já o havia alcançado e parou...estava feliz