Robocop Gay
Um dia, não muito tempo atrás, a maior ofensa que um homem poderia ouvir era ser chamado de - desculpem-me se parecerei ofensivo - homossexual. Ou viado, gay, bixa, bonequinha, marreca, frutinha, entre outros, que sei que marcaram sua memória.
Era inadmissível ter sua hombridade e masculinidade colocadas em cheque. Naquele tempo o que importava era ser homem. Barbudo, bebedor de álcool, devorador de colesterol, arrebatador de menininhas. Qualquer sinal de fraqueza era taxativo. Achar um bebê fofo, rir de um filhote de cachorro, chorar com um drama, arrumar-se cuidadosamente, era o mesmo que colocar uma placa sobre a cabeça e anunciar sua saída do armário. Mesmo que você nem soubesse que um dia esteve escondido por lá.
Não sei o porquê, mas sempre tive a impressão de que a maioria de meus familiares desconfiava do meu posicionamento másculo. Talvez porque enquanto meus primos preferiam brincar com carrinhos e de polícia e ladrão, eu preferia ler um gibi e passar a tarde desenhando. Enquanto meus amigos iam a festas e conquistavam o maior número de meninas possíveis, eu ia ao cinema sozinho - assim conseguia avaliar melhor o filme. Minha família desejava que eu me exercitasse, frequentasse academia e entrasse no exército. Optei por seguir o caminho das letras e tornar-me escritor.
Ainda lembro-me dos olhares quando comentei entre parentes qual seria minha escolha profissional. Categoricamente a palavra "escritor" foi interpretada e caracterizada com dois significados: "viado" e "fracassado".
Não me importo com isso. Sei muito bem quem sou. A opinião alheia é um detalhe, uma sujeira no visor do capacete, um vento que empurra a embarcação na direção errada.
Infelizmente, hoje, muitos não sabem o que realmente são. Há uma libertinagem, uma defasagem em relação a uma convicção simples e primordial na natureza humana: a escolha sexual. Você conhece um homem e não sabe se realmente está falando com um homem. Que dilema. Hoje é tão comum encontrar casais homossexuais engalfinhando-se por aí, que achar um heterossexual é o mesmo que ver um passarinho verde. Raridade.
Todos têm liberdade para tomar decisões referentes à própria vida. Qual time torcer, qual emprego escolher, que tipo de música ouvir, que estilo adotar, com quem se deitar etc. Se existem homens que preferem, ao invés de doces, cheirosas, meigas e sensíveis mulheres, outros como eles próprios, peludos e fétidos, o problema é exclusivamente deles. Mas ninguém é obrigado a aprovar e aplaudir uma decisão como esta.
Dizem que o Oriente é uma sociedade atrasada em paralelo ao Ocidente. As rígidas normas culturais e religiosas são consideradas retrógradas e opressivas.
Discordo.
Por volta de 800 anos atrás no Japão teve início uma prática tão popular hoje por aqui. O wakashudo. Este comportamento era característico entre os samurais, guerreiros milenares conhecidos por suas técnicas mortais. Eram exímios assassinos. Homens ao quais os homens de hoje temeriam. Doutrinados e rigorosos, até hoje observamos a destreza, a concentração e a moralidade provenientes daquela cultura. O wakashudo, o "caminho do jovem", era um período ao qual os discípulos, predestinados a tornarem-se máquinas de matar, se entregariam integralmente a seu mestre.
Observe a conotação da expressão "integralmente". Porque era de fato uma entrega completa.
Até os 18 anos o jovem pertenceria ao daimyô. Neste momento era feita a iniciação do menino. Com seu mestre. A relação entre eles, portanto, era mais que aluno/professor. Eram amantes. O conceito era semelhante ao da pederastia grega. O que iniciava uma relação sexual entre um homem mais velho e um adolescente evoluía para uma relação platônica. Os milhares de guerreiros japoneses viam nisso algo natural e ideal.
Fato: são exceção os samurais que não experimentaram uma relação homossexual.
Esta prática foi abandonada por volta do século XVIII e considerada uma depravação de valores, excluindo qualquer valor ético ou de tradição no homossexualismo. Estamos atrasados em relação a eles. O que hoje é comum em nossa sociedade já era praticado há muito tempo no extremo oriente.
Saber disso foi o mesmo que admitir que o Batman e o Robin tenham algo a mais do que aparenta, foi o mesmo que concordar com Os Mamonas Assassinas e chamar o Robocop de gay, é o mesmo que afirmar que o Neymar é melhor que o Messi. Frustrante.
Decepcionante mesmo é conversar com um homem e não saber se ele é um escritor ou um samurai.