Qualquer semelhança não é mera coincidência ( O VALENTÃO)
Ele era do tipo valentão. Nas rodas de amigos sempre se impunha pelo jeito grosseiro e alto de falar; quase gritado.
Quando contrariado, ou se alguém, até mesmo os amigos, divergiam do seu ponto de vista, ele se irritava vociferando palavrões. Em casa a mulher e os dois filhos adolescentes o temiam; por qualquer motivo os surravam. Educava os filhos usando o espancamento como forma pedagógica para qualquer situação.
A mulher funcionava como uma válvula para suas tensões. Ele transferia para ela os seus temores e tentava destruí-los nela, o que evidentemente, gerava consequências gravíssimas, culminando com a pobre mulher sendo barbaramente espancada. Essa era uma verdadeira santa; embora ainda nova, tinha a aparência de idosa, tamanho o sofrimento nas mãos do marido.
Possuía uma forte relação de posse sobre a mulher. Seu relacionamento com ela desenvolvia-se como se ela fosse sua propriedade.
Suas reações diante de frustrações eram primitivas.
Tinha como lema, o que propagava sempre, que “homem que é macho, bebe o mel e mastiga a abelha!”
Pois bem. O valentão chegou em casa e informou a mulher que iria viajar. Passaria alguns dias fora. Iria a São Paulo tratar de negócios. A mulher, cordata como sempre, arrumou a mala do marido sem nada lhe perguntar.
Conforme anunciou, ele partiu.
Dias depois, quando em companhia dos filhos assistia ao telejornal que antecede a novela, a singela esposa interessou-se pela matéria que destacava a parada gay. Entre rapazes alegres e multicoloridos, foi surpreendida pela imagem do marido todo “produzido” de “libélula esvoaçante” e bastante saltitante entre dois “colegas” de igual teor.
Ao microfone do repórter ele disse em alto e bom som que protestava contra o preconceito; já temos a união homoafetiva, sinal de que tudo está caminhando bem, não acha, baby? E acrescentou desmunhecando-se toda: “Veja a parada! Que luxo! Me colore que eu to bege; veja que sucesso!”
Fazendo prevalecer a máxima de que quase sempre todo valentão não passa de uma “tchutchuca” enrustida, revirou os olhinhos e saiu rebolando.