QUEM VOCÊ QUER SER?

Há uma enorme diferença entre quem você quer ser, embora vencedor, e como ser um vencedor na vida levaria a ser pessoa diferente.

O reconhecimento por ser um vitorioso quer elevá-lo a uma distinção que você não pretende nem acha conveniente no cenário humano. Glórias não fazem parte de uma personalidade aparelhada. A vitória, ser um vencedor, traz bajulação, envolvimento em ufania que pode levar a pessoa a entender que está em patamar diverso da igualdade de todos. Isso é perigoso para o desenvolvimento dos valores maiores que são sequenciais na existência.

Tudo no viver é cumulativo. Só os frustrados gostariam de viver gloríolas e as perseguem insanamente. Não é em vão que se caminha para a vitória de forma despojada, e conquistada assim se permanece, mais simples, livre de louros, comendas e reconhecimentos festivos, recebidos com o devido valor.

O mérito não chega por motivos menores, sempre é acompanhado da conquista pelas razões maiores que o destino colocou no caminho dos vencedores. Por isso as patologias do ego nem mesmo se avizinham da vitória, seus doentes nasceram mutilados do indisfarçável entendimento da vida e como nela se deve viver.

A compreensão dos que vencem é maior, e por isso mesmo sabem que o centro do mundo não está ocupado pelo seu ego, necessariamente não são egocêntricos nem há motivos para assim serem, estão muito além da busca encetada pela soberba dos insuficientes, limitados em seus objetivos perseguidos e que nunca serão alcançados. Esmaga-os o entrave da inteligência acanhada, embotada pela vontade que esbarra nas verdades da vida.

O voo de águia do vencedor assiste do alto, sem soberania ou pedantismo, a cena humana da qual nunca participou, onde se debatem a vaidade rastejante, o ódio dos vencidos, a inveja da insuficiência, a covardia dos injustos, a maldade dos desumanos, a crueldade dos ausentes de solidariedade, a indiferença do que seria a irmandade.

Assim é o vencedor, escola assistida e isolada, onde faz do exemplo a possibilidade de salvação dos aliados do desvio e detratores do amor.

Não incomoda a ninguém, mas por muitos é incomodado, pelo assedio no sentido de inserí-lo no préstito que abomina, logo que vive na simplicidade, longe da procissão da vaidade que repele, da festa do ego que rejeita, do banquete dos encômios que afasta, migalhas do nada perseguidas no torneio dos desaparelhados sem personalidade sadia, hígida.

O vencedor vive distante das solenidades que para si preparam, com vigor as recusa. É preciso ser o que se quer ser, não o que querem que seja, e pior, ser gêmeo dos que não são e queriam ser muito mais do que são, para merecerem reconhecimento pelo veículo da repetição, no que insistem para sufrágio do reconhecimento irreconhecível.

É preciso viver sua exclusiva verdade, não a dos outros ou a que queremos que os outros achem sem justificativa alguma, pelo demérito carregado.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 26/06/2012
Reeditado em 17/08/2012
Código do texto: T3745267
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