O velho
eu parei para pensar um pouco, coisa que não faço com muita frequência, pensei no por que todos me perguntam, o por que da minha loucura. Infelizmente não cheguei a conclusão alguma, abri os olhos novamente e percebi que tinha um senhor parado em minha frente, deveria ter uns 60 anos de idade, estava usando uma bengala cujo o formato lembra um dragão, apesar de não parecer ter dificuldades para caminhar. Olhando para aquele senhor, voltei a pensar em minha louca vida, porem algo me chamou de volta a realidade, era o senhor de bengala, que olhou bem em meus olhos e simplesmente não disse nada, então perguntei:
- Posso ajudar?
- Sim pode.
- Em que posso te ajudar?
- Meu jovem, me faça um único favor.
- sim, qual? respondi com um pouco de impaciência.
- tira essa cara feia da minha frente agora!!! disse com um tom alto, que até a mocinha que passava do outro lado da rua conseguiu ouvir.
Não sabia o que dizer, já que tudo o que imaginei que ele poderia pedir, não chegava nem perto do seu pedido. fiquei por uns três segundos refletindo, já que não tinha o habito de não ter a resposta de imediato.
Meus olhos buscavam naquele olhos vividos uma resposta, mas não a encontrava, foi quando ele disse:
- Relaxa, estava brincando, não fique ai parado com essa cara de bobo, faça um favor a esse homem cansado da viagem pegue essa mala. disse rindo, como se eu fosse um simples idiota, na verdade fui um simples idiota.
- O senhor vem da onde? perguntei já pensando na resposta, dessa vez ele não vai ganhar, vou mostrar o que sei fazer de melhor.
- Venho de longe, venho visitar uma velho amigo, mas pegue a mala, estou com um pouco de pressa. me falou com um ar de seriedade tão convincente que achei melhor ficar calado.
Quando peguei a mala, notei um peso enorme, cara estava super pesada, o que será que tinha naquela mala, mas a verdade é que não consegui levantar a mala nem se quer um centímetro do chão. olhei para a cara do senhor, que estava morrendo de tanto rir da minha cara. fiquei nervoso e disse:
- poxa vida, esta carregando pedra nessa merda? disse com um tom agressivo.
- Não, não sou um idiota para carregar pedra, quem seria tão besta de pensar isso?
- então o que carrega nessa mala?
- Alem de tudo eh curioso, deixa essa merda ai mesmo, não vou morrer hoje mesmo depois compro tudo de novo.
- Como assim deixa isso aqui?
- Meu Deus quando dizem que essa é a geração burra, ninguém acredita; é só deixar no chão, ai desse mesmo jeito. disse como se eu fosse um idiota novamente e de novo ele me fez sentir que estava correto.
- Eu vou embora. eu disse com muita raiva.
- Vai, não me ajudou em nada mesmo, porém poderia me fazer companhia no almoço. sua voz era tão tranquila e chorosa que não pude recusar e sem dizer que adoro comer.
Caminhamos até um barzinho, que ficava na esquina, entramos, sentamos e veio um garçom dizendo:
- posso ajudar?
- pode sim. respondeu o velho.
- O deseja comer?
- Uma mulher? respondeu tão espontaneamente que meu raciocínio foi tão rápido que imaginei que a resposta do garçom seria assim "não é um puteiro aqui."
- sinto muito, não há mulheres aqui. respondeu com vergonha.
- então me vê um quilo de cocaína e dois de maconha. disse com ar serio.
- não temos também me desculpe, mas o cardápio está ai. disse com uma cara de quem não gostou da brincadeira.
Após demorar uns dez minutos para ler o cardápio, disse:
- tudo bem, agora pode me trazer o de comida, que esse aqui não serve para nada.
fomos expulsos do bar, tudo bem, pelo menos eu iria embora. mas quando pensei em me despedir o desgraçado do velho, começou a passar mal, liguei para a ambulância, mas acredito que estavam vindo de jumento. quando chegaram o velho estava muito mal, o colocaram na ambulância e sem que eu pudesse dizer algo me levaram junto.
Ao chegar no hospital, os médicos me faziam varias perguntas, das quais não sabia o que responder, fui chamado pelo médico, que disse:
- Seu pai esta no quarto, você já pode ir ver ele. disse e saiu tão rapidamente que não deu para não dizer que não era filho daquele senhor.
caminhei em direção ao quarto, o velho estava ali deitado, disse:
- esta se sentindo bem? porem ele não respondeu.
quando cheguei perto ele estava com a boca cheia, o maldito estava comendo, depois de alguns segundo me disse:
- Ai pode se servir, esse é o nosso almoço. ele deu algumas rizadas e continuou a comer. não comi pois detesto vegetais.
após uma hora, nos fomos liberados, acreditei que iria me livrar daquele demônio, mas ele me pediu um ultimo favor,que eu o acompanhe até uma residencia de um velho conhecido dele. concordei então caminhamos por mais 30 minutos, até chegarmos a uma casa que eu conhecia por inteira, foi quando perguntei:
-O que vai fazer nessa casa?
- Já disse, vou rever um velho amigo.
- Aqui? tem certeza? perguntei com muito espanto.
- tenho sim, não posso me esquecer dessa casa, passei um bom tempo aqui.
- Mas com quem você vai conversar?
- vou falar com uma pessoa que a anos esta aqui, uma pessoa que jamais conheceu a alegria, porem que jamais demonstrou a tristeza, uma pessoa que vive cada dia como o ultimo, que não quis saber o porque de tantas dores, mas sim qual será a próxima vitima de suas brincadeiras, uma pessoa que apesar de não conhecer a alegria, a faz nascer em outras pessoas, essa pessoa não compreende o mundo, ou o mundo não a entendi, mas acredita que apesar de tanta dor que o mundo causa, sorrir é sempre o melhor remédio.
- Desculpa mas quem mora ai? perguntei com vontade de conhecer tal pessoa.
- eu moro ai. me disse como se fosse verdade.
- Impossível. pois essa casa é dos meus pais.
- Eu sei, morei ai por muitos anos.
- mas agora eu moro ai.
- eu sei disso também e sei ate com quem você vai se casar.
- Como se nem eu sei.
- Eu sou você com 60 anos e aquela mala estava cheia de terra.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele havia sumido.
Eu senti alguém tocar minhas costas, acreditei que seria o velho, porem não era, uma moça estava me avisando que era minha vez de ser atendido na secretaria da faculdade.