De Chopin, da Psicologia e da Morte, não necessariamente nesta ordem
No mês de maio faleceu o polonês Olgierd Ligeza-Stamirowski, o Jerry, figura que deveria ser antológica do Curso de Psicologia da Universidade de Mogi das Cruzes-UMC, posto que foi, digamos assim, “o pai” do curso.
Nos idos 1969, a este polonês fizeram a proposta de trabalhar em Mogi das Cruzes no incipiente Curso de Psicologia, para torná-lo realmente um curso de Psicologia. Arrojado, vislumbrou a grande oportunidade de realizar algo novo e desenvolver as idéias sobre Psicologia que pipocavam em sua mente. Aceitou a proposta e, no segundo semestre daquele ano convidou alguns amigos da Psicologia da USP para trabalhar em Mogi. Quatro aceitaram: dois brasileiros, o Vanderlei e o Tolentino, um japonês, o Sadao e um espanhol, o Miguel. Com estes foi montada uma das equipes que movimentou o Curso nos períodos iniciais. Depois chegaram outros professores vindos da PUC-SP: o Ciampa, o Tonello, o Sigmar, o Juracy, o Joel e mais outros e outros, compondo a orquestra que tocou grandes sinfonias no Curso de Psicologia, um reduto amoroso em Mogi. A grande marca deste momento originário foi a gestação de um espaço institucional onde cabiam a paixão pelo ensinar e as diferenças, produzindo intensos debates ao nível acadêmico, com grande envolvimento dos alunos.
O Jerry, como todo “pai”, amado e temido, impôs alguns tabus, reservando para si o que deveria ser repartido com os “filhos” que iam crescendo. Gradativamente, estes foram sendo expulsos do convívio de seus outros irmãos que, reunidos, rebelaram-se contra o pai e o mataram, pelo menos simbolicamente.
Mas, ao contrário do que poderia ter acontecido, depois de uma quase que euforia inicial com o curso, considerado um dos melhores do Brasil, houve um estacionamento seguindo-se um processo lento de agonia que durou alguns anos. Muitas falas dos professores dessa época trágica traziam implícito que Tanatos, o grande desorganizador, circulava por lá, revelando um clima escatológico.
Assim é a vida. Construção e desconstrução. Nela também se imiscui a qualquer momento o grande desorganizador ceifando-a sem dó nem piedade. Assim foi com o polonês. Mas, ao contrário do curso, que qual Fênix entrou em combustão e renasceu das cinzas, o mesmo não aconteceu com o Jerry. Todos os milhares de fios que o ligavam ao mundo se desataram. Indiferente, nada mais conseguiu emocioná-lo, nem mesmo Chopin que fazia o fundo musical na cerimônia fúnebre e que ele tanto admirou como irmão polonês!
O mais estranho é que ninguém do Curso de Psicologia lhe mandou flores ou deu condolências para a família. Apenas cinco pessoas da época estavam presentes no seu velório! Talvez alguns de seus diletos filhos. Não sei.
Por isso resolvi escrever.