Obrigado, Stan Lee

Eu sempre tive fortes convicções sobre quase tudo. Quase tudo mesmo. Sempre fui muito obstinado. Desde criança uma certeza sempre esteve presente em meus sonhos e idealizações: o dever da responsabilidade.

Até hoje mantenho características em minha personalidade dos tempos da infância. Todos nós somos assim. Alguns mantêm o desregrado hábito alimentar. Outros as brincadeiras em excesso. Eu sempre me cobrei muito em fazer o que é certo. Em ser o melhor que eu pudesse ser. Assumir a responsabilidade de homem. Todos que me conhecem dizem que pareço mais velho do que realmente sou. Meu comportamento e seriedade demonstram isso, eles dizem. E isso desde os dez anos de idade. Creio que tenha a ver com a morte prematura da minha mãe. Ser órfão fortaleceu toda a educação que dela recebi. O senso de preservar os valores que me foram transmitidos consolidou minha personalidade. Como dizem as sagradas escrituras: ensina a criança o caminho que deve andar que ao crescer ela nunca se apartará dele.

Ela sonhava em me ver um grande homem. Alguém relevante para a sociedade. Queria-me ver mudando o mundo. Não me transmitiu nenhuma ideologia específica. Não foi um ditador. Foi uma mãe. Permitia que eu tirasse minhas conclusões e formasse minhas opiniões. Não sei se, depois de tantos anos, hoje eu seria motivo de orgulho e exaltação. Pensando bem, seria sim. Ela foi uma das poucas a valorizar quem eu era, e não o que eu podia fazer. Até porque o pouco tempo que ela me conheceu eu ainda não tinha aprendido a fazer nada de muito relevante.

- Faça sempre o que é certo. – ela dizia. Com uma voz doce e olhos amorosos. Mesmo resmungando, no fundo eu concordava. Sempre concordava. Ainda concordo.

Minha mãe criou a estrutura, os quadrinhos trataram de terminá-la. Desde sempre fui motivado por meu pai a ler. Depois que paguei o gosto pela coisa não parei mais. Comecei como qualquer criança lendo gibis. Os do Batman e do Homem-Aranha. Ambos os personagens com traumas familiares por trás de suas motivações. Impossível não me identificar. Com o tempo escolhi o Homem-Aranha como fonte de inspiração. Gostava do Batman. Ainda gosto. Mas não morava em uma mansão, não tinha mordomo e nunca tive o que sempre quis. No mundo em que vivemos era mais fácil acreditar que uma aranha vai lhe dar super poderes do que você conseguir dinheiro de sobra para montar um exército de um homem só. Eu era mais um Peter Parker: órfão, nerd, impopular e solitário.

Um tempo atrás ninguém conheceria esta frase, mas com o advento do cinema de super-herói ela se tornou bordão já gasto. Mas ainda faz muito sentido: Com grandes poderes vem grandes responsabilidades.

Uau! Não foi só o Peter que foi marcado por estas palavras. Eu e tantos outros anônimos partilhamos desta filosofia.

Você tem um talento, você tem a responsabilidade de usá-lo. Se você acha que não possui nenhum talento, desculpe, você está muito enganado.

Faça esse exercício: pense em seu primeiro beijo. Lembre a ansiedade, o nervosismo – não finja que você não ficou nervoso -, a emoção, o prazer. Lembrou? Agora compreenda o quão complexo foi esta simples lembrança. Todo o trabalho que sua memória teve e a velocidade com que as janelas de sua se abriram. A forma rica que sua mente pegou estas informações e adequou às emoções que você estava sentindo no momento fazendo com que tenha sido triste ou prazeroso recordar-se disto. Viu o trabalho milimétrico e poderoso realizado dentro de sua cabeça? Observou como seu corpo foi influenciado por isso? Sua respiração. Seu batimento cardíaco.

Conclusão: você tem um poder incrível.

Se você, se eu, se nós temos esta habilidade – e tantas outras que não é possível enumerarem – nós também temos uma responsabilidade. A de escalar paredes e se balançar entre os prédios? Não. Bem que eu gostaria, mas não. Você tem a responsabilidade de ser humano.

A responsabilidade de saber amar. A responsabilidade saber compreender. A responsabilidade de se doar. A responsabilidade de saber ouvir. A responsabilidade de ser simples. A responsabilidade de valorizar as outras pessoas pelo que elas são e não pelo que elas fazem ou deixam de fazer.

Quem age assim é um super herói da vida real. Um combatente dos olhos altivos, dos críticos, dos egoístas, dos soberbos, dos ranzinzas, dos mãos de vaca.

Peter Parker é um sujeito inspirador. Mas ele não existe de verdade. Ele não é uma pessoa. Ele é uma idéia. Uma grande idéia. Nada mais justo que agradecer a pessoa por trás da idéia. Obrigado, Stan Lee.

P.S.: Obrigado, também, Steve Ditko. Você é o cara.

Eduardo Dorneles
Enviado por Eduardo Dorneles em 25/06/2012
Reeditado em 25/06/2012
Código do texto: T3744208
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