PÔQUER

PÔQUER

Um dos passatempos mais utilizados pelos jovens de minha época era um joguinho de pôquer. Não acontecia todos os dias, pois, teria certa conotação de vício. Somente em fins de semana, na ausência de uma festinha, um baile, ou outro qualquer evento mais interessante. Havia poucas opções de lazer, principalmente, após certa hora da noite, quando se recorria às cartas. Claro que não era “a leite de pato”, expressão usada quando no jogo não corria dinheiro; todavia, ganhava-se ou perdia-se uma insignificância. Também, o grupo só comportava estudantes. Poucos trabalhavam.

Nunca fui muito ligado ao baralho. Participava muito pouco da jogatina. Lembro-me de que, no ano que precedeu aos vestibulares, em 1960, morei numa república de estudantes de medicina, na Vila Mariana, em São Paulo. Éramos uns seis, o Airton, o Julinho, o Daher Gataz, e dois outros cujos nomes me fogem da memória. O grupo (eles) tinha algumas paixões: a música e o pôquer, além da faculdade, é claro! O Airton era ótimo violonista, e com os outros cantando, formavam um bom conjunto. Uma praxe: com garrafas iguais, volumes de água diferentes, penduradas num suporte, produziam sons rítmicos, acompanhando as canções. Estas, geralmente, sambas dor-de-cotovelo, boleros. Às vezes varavam a madrugada. Em outras noites, rolava o pôquer.

Abro um parêntesis para dizer que, hoje, ainda existem turmas de jovens que praticam esse emocionante jogo de baralho. Outro dia mesmo, visitando uma colega de profissão, ao me mostrar sua residência, vi, no fundo do quintal, um espaço gourmet, com fogão, geladeira, churrasqueira. Disse-me que, volta-e-meia, um sobrinho (ela não tem filhos), também advogado, trazia seus colegas para um joguinho ali, e, enquanto o jogo corria, assavam uma carne.

Voltando ao passado, aqui em Santo André, havia entre os amigos a turma do pôquer. Henricão, Irineu, Valdir e outros mais. Os encontros eram esporádicos, mas aconteciam. Jogo a dinheiro, porém, bem barato. Certa ocasião, o Irineu perdeu um dinheirinho, e o Henricão, como legítimo descendente de Israel, não deixou por menos, cobrando o que havia ganhado. O Irineu, também judeu, sem nada no bolso, teve que lhe dar uma Parker 51, em garantia.

Sempre cobrado, o devedor, cujo pai era proprietário de uma “lojinia” de roupas masculinas, acabou pagando a dívida, cedendo ao credor duas gravatas!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 25/06/2012
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