Igualmente diferentes

É um verdadeiro milagre o fato de uma única célula, conjunção de dois gametas, dividir-se a ponto de formar um ser em toda a sua complexidade; e este ser, mesclado a outro, dar origem a um terceiro que, ainda que traga uma forte herança em suas células, é diferente de todos os outros – inclusive dos que o originaram.

Mutações e combinações aleatórias (aleatórias?) formam a cada vez um organismo diverso de outro da sua espécie. Peculiaridades que fazem de cada ser vivo um exemplar absolutamente único e original. Então, por que o espanto? Se somos todos tão diversos, por que dois pesos e duas medidas? Deveria ser, no mínimo, milhares de pesos, bilhares de medidas...

O cérebro humano, por exemplo: tem cerca de 86 bilhões de neurônios, fazendo sinapses entre eles todo o tempo. Se algumas células não funcionam exatamente como deveriam, um novo caminho se abre, ligações excepcionais se formam, todo um processo mental se transforma. Um ser diferente, ou melhor, ainda mais diferente dos outros, emerge da multidão. Então, por que o espanto? Se somos todos tão diversos, por que se incomodar quando alguém é ainda um pouco mais?

Estamos todos no mesmo saco, aquele das bolas de gude; as antigas bolinhas de vidro de tantas infâncias, translúcidas e esverdeadas, cada uma com sua mancha, transparência ou opacidade peculiar. Às vezes uma mais clara, outras vezes uma lascada... facilmente identificáveis mas igualmente diferentes. Nenhuma é exatamente igual à outra. Nem mesmo as mais parecidas entre si.

Então, por que o espanto frente àqueles que são diferentes entre os diferentes? Se somos todos tão identicamente diversos, que bobagem é essa de separar para depois incluir?

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Este texto faz parte do Exercício Criativo "Diversidade"

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