DOUTOR !...
Essa crônica é uma crítica a Cachoeira Escura,mun. de Belo Oriente,pelo abandono em que se encontra em todos os setores da sociedade.
DOUTOR ! ...
Suigênera recostou o cotovelo no portão de ripas paralelas, restos industriais dos nossos sonhos, deixou o queixo na concha da mão entreaberta, estendeu a visão até onde seus olhos sexagenários alcançaram e se perdeu na incerteza do amanhã. Acompanhou a estrada na compaixão de quem olha um ser querido a extinguir-se com a lentidão do tempo. E cochilou nas lembranças.
Haveriam sim - Eram seus pensamentos que o tempo cuidou de esvanecer - claro que haveriam escolas boas para o seu filho, o único , porque assim diziam e se incumbiam de faze-las , e seu filho, então, alcançaria o patamar mais alto que se pode almejar, porque ela e seu marido, já passeando nos jardins sagrados, dariam seu último centavo para vê-lo, assim, formoso, bonito, trazendo em sua bagagem diplomas que falassem de suas andanças pelos caminhos do conhecimento.
Médico, advogado ... Suigênera visualizava na sua decepção,tão espessa que poderia tocá-la, e a tocava ,para sentir o seu filho que cresceu, tentou e se decepcionou quando os caminhos das grandes conquistas não aceitaram seus pés no chão.
Voltou no tempo, à sua luta, as previsões de seus pais que descreviam seus horizontes de aplausos,com luzes e festas. Horizontes de felicidade, de progresso e acreditavam em Suigênera por essa luta, e a descreviam abraçada ao troféu que a vida lhe daria, aos troféus que a vida lhe daria,e de antemão a descreviam e fechavam os olhos e gesticulavam , visualizando-a, ela também é filha única, como ela visualizava o seu filho naquele momento, como uma canção que enternece a alma.
E a visão de Suigênera se perdeu com a rua, numa esquina da vida, capenga ambas , mãos dadas, e sua visão de sonhos deram lugar, então, ao seu filho, que seus olhos já úmidos vislumbraram, metido em uma bermuda de coloridos fortes, diversos , como retalhos, abaixo dos joelhos, a cueca exposta como parte dos adereços ridículos que o jovem adotou para o seu cotidiano.
Suigênera sussurrou com uma lágrima nos olhos :
- Doutor ...