Avistar.. Seguir.. Descobrir.
Certo dia, segui um homem. Não me julguem antes de ler o texto. Não segui um ex-namorado na ânsia de encontrá-lo com sua atual, não sou assim. Estava andando pelo calçadão de Nova Iguaçu, eu tinha um destino, mas o horário ainda estava precoce. Fiquei vagando, olhando para os lados, imaginando histórias de desencontro e de desalento que cada um ali estaria passando. Em meio a pensamentos aéreos avistei um andarilho. Ele era alto, pardo, usava um tênis de marca, bermuda surrada e uma blusa. Mas o que me chamou atenção foi sua expressão: ele carregava consigo um sorriso misterioso, um ar de superioridade que botava em dúvida sua atual situação. Quem seria ele? Decidi segui-lo. Talvez meu humilde instinto de oferecer-lhe algo para comer ou minha curiosidade efêmera.. Pouco importa. Fui andando a passos rápidos, escondendo-me para não ser vista por ele. O homem entrou em um mercado e foi passando devagar entre as fileiras, vez ou outra tirando um produto da estante. Com esse lado humano perverso que abita o meu âmago, eu pensei por um momento que ele fosse furtar uma caixa de biscoitos. Mas ainda com a expressão melancolicamente sorridente, ele a levou até o caixa e tirou de dentro do bolso algumas moedas. A trocadora, uma mulher loira com grandes olhos pintados de maquiagem laranja barata, olhou para o homem antes de pegar o dinheiro e embalar o produto, mas esse nada disse. O homem continuou a caminhar lentamente, sem parecer se preocupar com as gotinhas acanhadas que caiam do céu. De repente o homem sentou em um banco da praça e fixou os olhos em frente, avistando tudo e olhando o nada. Ele podia estar perdido, talvez não soubesse qual caminho seguir dentre tantas ruas que fora naquele dia. Talvez o tênis desgastado estivesse incomodando e a chuva, que agora se tornara mais sádica, estivesse fazendo-o parar. Talvez. Mas naquele momento, ele parecia feliz. Mesmo com todas as incertezas que o cercavam. Um sorriso, de um homem simples em meio a tantas lágrimas de pessoas importantes naquela praça ou nessa vida.. É por isso que sinto prazer em avistar pessoas ao longe.. Gosto de olhar para os lados, saber que não estou sozinha no mundo. Que nem tudo é problema, que nem tudo no mundo está perdido ou corrompido. Saber que um dia, andando em uma calçada, eu possa encontrar em simples detalhes, mais uma razão para viver.