entre a queda e a explosão existia a vontade de sentir

Entre o céu e a terra, ela me dizia enquanto andava contando os passos não sei pra quê. Entre o céu e a terra e não dizia mais nada como se nada mais fosse preciso pra explicar. Eu saberia. Eu sei. E eu também não disse nada. Entre o céu e a terra. Entre a queda e a explosão. Entre o beijo e o abraço. Entre esse segundo e o que já passou.

Existia a fumaça do cigarro, do carro. E ela abria a boca devagar quando cada nota da guitarra invadia seus batimentos. E não falava mais nada. O seu rosto carmim expressando a vontade louca de agarrar a chuva e aquele quê de indecisão quando percebe que a água escapa dos dedos. Tudo escapava dos seus dedos. Entre o jamais e o com certeza existia a razão e a procura desesperada por explicações. Por que você nunca mais vai voltar? Pra onde você vai ainda tem estrelas? Entre a falta de sentido e o excesso de olhares existia a fuga. E existia o espaço em branco no meio da despedida rápida. Dos breves invernos. Ela era gelo depois era água líquida. Ela era fogo depois era cinzas. Ela era incêndio e depois era holocausto. Era o fim do mundo e o início dele. Entre as suas falas existia a oposição e também tinha alguma coisa que me fazia pensar que não haveria amanhã. Entre o céu e a terra e depois terminava de dizer sem mais o que explicar. Eu sei. Tudo se encontra na passagem de avião, nas milhas torturadoras entre esse mundo e um lá na puta que pariu. Ela dizia entre o céu e a terra e eu sabia. Eu sabia que era pra ser entre eu e você. E que nada voltaria a ser a mesma coisa. Porque ainda não temos uma máquina do tempo no porão de casa. E se tivéssemos, essa forma estúpida de números que só te faz chegar atrasado nos lugares - a contagem regressiva pra não sei o quê -, não ajudaria em nada. O Big Bang era só uma gota comparado a tempestade que existia. Entre o ponto de partida e o final existia um vácuo. E era nesse abismo que ela se fixava quando dizia entre o céu e a terra. Que eu também me prendia na ideia idiota de tentar salvá-la. Entre tudo o que ela me disse e o que ela queria dizer existia o céu e a terra. O resto era tudo bobagem e má intepretação dos seus cabelos ruivos.

Beatriz Adrivin
Enviado por Beatriz Adrivin em 24/06/2012
Código do texto: T3741852
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