Em hebraico o termo Espírito – ruah- é feminino, ventania. Os que apostam no inverno e na rigidez do desamor não conseguem conter, aprisionar e extinguir o Espírito e ele continua atuando e desacomodando. Assim como a casa onde estavam os discípulos, tremeu e sobre eles se espalharam línguas de fogo, as nossas acomodações são abaladas e o que está frio é aquecido.  
 Na lírica medieval, o vento é masculino... Literariamente isso talvez  explique como não são explicáveis os vendavais provocados pela indiferença estudada de uns gestos corteses, firmes e farisaicos sobre os tempos presentes no Vaticano.
Não é novidade que Bento XVI, o estudioso teólogo Ratzinger, não é um homem de estado e de pulso sobre uma Cúria que se encapela de mil e um problemas e jogos de poder.  Durante o último conclave, como muitos,  torci pelo cardeal Carlo Maria Martini, precisamente porque o excessivo academicismo do atual Papa nos afligia. Achava que talvez não fosse a melhor escolha. Nem sei, confesso, qual será a melhor escolha neste momento caso novo conclave fosse convocado...
A saúde de Bento XVI, 85 anos e problemas cardíacos fazem sentir no Vaticano um ar de fim de reinado, bem conhecido dos observadores que já dele falaram nos últimos tempos de João Paulo II. 
O carmelengo,  cardeal Bertone,  acumula decisões controversas e críticas. O clero germânico vive num clima de pré-cisma que o cardeal Schöenborn, antigo aluno do Papa em Ratisbona (é o autor do Novo Catecismo) e atual arcebispo de Viena na Áustria, tem tentado suster, fazendo-se eco dessas preocupações e da voz crítica de uma Igreja que quer ser de hoje para continuar a ser. 
O futuro conclave terá uma predominância de púrpura européia e há quem diga que isso abre caminho à eleição de um Papa italiano, deixando longe da cadeira de S. Pedro o clero da América Latina e da África. 
Resta esperar que o Espírito Santo, ao descer sobre os cardeais, lhes ensine que, ao contrário do reino de Cristo, o governo do Vaticano é deste mundo.