UM CONTO DE AMOR
Eu sempre achei minha mãe muito linda, não pelo olhar místico de um filho, mas pelo olhar severo de um homem que sempre soube distinguir o garbo sutil nas mínimas atitudes. Ela era demais.
Minha mãe tinha o dom da elegância não extravagante, da elegância desobrigada, solta; da elegância que flutua, que encanta, se encarna independentemente do traje que seu corpo traz sobre si. Ela era muito mais anjo que mulher. Ela era divina.
Minha mãe não andava, ela flutuava. Seus gestos eram finos, requintados que me embebiam de prazer com sua presença.
Minha mãe tinha uma visão generosa do mundo, pois nunca reclamava de nada e nos ensinou a agradecer a Deus a todo o momento pelo dom da vida. Suas atitudes sempre gentis marcaram muito para mim a elegância amável de minha mãe. Sabia ouvir com paciência e com sabedoria orientar. Não deixou desafetos. Tinha um semblante sereno e extravasava seus conselhos numa voz mansa e suave.
Dona Maria como de costume eu a chamava, era fantástica, inimitável no seu jeito generoso de nos tratar. Ela era de ferro, nada a abatia ou a tornava exausta. Mesmo doente seu sorriso era autentico e sempre preocupado conosco.
Lembro-me de suas delicadas mãos até ao nos bater quando traquinas transgredíamos os limites permitidos. Suas mãos postas nos ensinando a rezar. Sim me lembro! Suas ágeis mãos elaborando rendas de crochê. Suas incansáveis mãos costurando na Singer manual nossas fatiotas. Como eu amava estar ao seu lado quando no seu trabalho de costura. Ficava fascinado admirando sua destreza. Lembro-me de suas mãos nos afagando, suas mãos nos orientando, suas mãos nos banhando, suas mãos desenhando figuras, paisagens e nos mostrando assim a arte da pintura. Quem teve uma mãe como eu , já nasceu privilegiado, nasceu abençoado.
Ela era nobre de espírito. Não era presunçosa, mas sabia da sutileza que tinha em cuidar de si sem estroinice. Era uma menina que enfeitava nossa casa.
Ela era meiga e sensível.
Eu era pequeno, mas me lembro bem da faceirice dela ao receber um dia de presente um corte de seda de meu pai. Seus olhos azuis brilharam de uma maneira inexplicável. Lembro-me bem também da imensa tristeza que seus olhos mostraram nas lágrimas tantas escorridas ao cortar acidentalmente o tecido de seda. Olhou-me e como se eu entendesse falou:
- Não vai sair como planejei, mas vai ficar muito mais lindo, enxugou as lágrimas e continuou seu trabalho.
Ela era corajosa, firme e decidida uma verdadeira estrategista.
Neste pretenso ensaio que descrevo em rápidas pinceladas tenho orgulho de mostra a grande mulher que tive o privilégio de ter como mãe.
Minha mãe não morreu, pois a morte no sentido real ceifa a vida e consome a carne; o vivente simplesmente desaparece; ela por misericórdia e vontade deste Deus amoroso se ausentou corporalmente de nós, e assim ela graciosamente nos vela com sua nobreza de espírito.
Minha mãe é então a saudade boa que tenho.