Fraqueza e Força
                                                                                                    


 
 
 
                                        
 
                                               Isto acontece comigo de vez em quando. Hoje estou naqueles dias em que me sinto inteiramente perdido,  existencialmente falando, não acreditando em nada do que faço. Que a única verdade que tenho é esta: que nossas vidas poderiam ser diferentes se não permanecêssemos somente nas nossas fraquezas, embora seja verdade, como disse Lispector, que também não avançaríamos  um passo se fizéssemos apenas o que entendemos.
                                               Animado e inspirado  por uma das crônicas do grande Artur da Távola e procurando sentir o que ele sentiu, ao escrever “A aventura da Fraqueza”, criei coragem para expor também meus  sentimentos, em uma espécie de dueto com ele, pois ele continua mais vivo ainda,  através de sua memorável escrita. Ao final, transcrevo  a   conclusão  do grande cronista, dando o seu toque genial sobre a fraqueza humana.      
                                  
                               É tal a complexidade da vida, que nos perdemos nos seus infinitos labirintos. E queremos desvendá-la a todo custo e quanto mais fracos nos sentimos, mais ousamos.
                               Não é a coragem que nos impele a desbravar o mundo, mas a fraqueza.
                               E sentindo que nada sabemos,  ousamos fazer poesia, tentamos a prosa encantadora e até fazer ciência, com ar de seriedade.
                               Inventamos, fazemos mágicas, estudamos a vida e ela  nos foge pelos dedos.
                               Com medo, assustados, vamos fazendo contatos, teorizando e marchando, ora para um lado ora para o outro, não chegando a lugar nenhum.
                               Lemos tudo que nos cai nas mãos, sabemos dos outros e pensamos que sabemos de nós. O que sabemos?  Nem sei se nada sei, alguém já disse.
                               Mas não queremos ser céticos, queremos entender, saber e deitar falação.
                               Tornamo-nos apenas aventureiros,  piratas da nossa ignorância e vamos semeando mais confusão. Limitamo-nos a repetir o que os outros aventureiros dizem ,  sem o menor senso de responsabilidade.
                            É da nossa fraqueza que começamos a nos inspirar, a fazer poemas. É da nossa fraqueza que fazemos música, que aprendemos a tocar um instrumento qualquer, nem que seja uma flauta doce. É da nossa fraqueza  que entramos numa faculdade, que fazemos cursos e mais cursos.
                            A nossa fraqueza nos faz amar, querer o amor proibido, comprar o carro do ano, com teto solar, hidramático, de cor vermelha. É com a nossa fraqueza que achamos que podemos consertar o mundo. Que poderemos criar uma teoria única que explique de uma só vez o que é a vida... Toda essa corrida louca e grande ansiedade, subindo montanhas e mergulhando nos oceanos, tudo isso não passa de fraqueza.  
                               Artur da Távola registrou essa fraqueza, com sua sensibilidade e inteligência aguçadas, para no final de uma de suas memoráveis crônicas, nos oferecer a bússola da maturidade. “ Maturidade: começo da viagem pelas correntezas da própria força. Muita ou pouca tanto faz. A que exista. E que só depois da rocambolesca e demorada aventura da própria fraqueza, desponta na sua madrugada pessoal, quando   cansado e só, você descobre que  a sua não era aquela  na qual gastou a esperança, o sono e a vontade. A sua é outra: é a força em relação a qual lhe faltou energia para se aceitar, em vez de navegar seu nada na aventura da própria fraqueza feita aceitação, só porque os outros aventureiros dela também são.”    




                                 Nota:  Apesar da falta de tempo para me dedicar ao Recanto, como vinha me dedicando, pelo menos em alguns fins de semana, vou fazendo o esforço de deixar algum texto, como aconteceu neste sábado. Gdantas