O poeta e a política

Os Poetas e a Política

Devem os poetas e escritores envolver-se em política? Até que ponto?

Eis um questão que merece reflexão!

Poetas, por menos que o queiram, envolvem-se em política durante sua trajetória literária, seja para tecer loas a grandes feitos ou para tecer críticas ao estado de coisas de sua época.

Embora muitos se declarem apolíticos e enojados com os políticos profissionais, não existe um grupo mais ativo politicamente na história de nosso país do que os poetas e escritores.

Abolicionismo, República, combate à ditadura, apoio à ditadura...todos tiveram seus poetas.

Gregório de Matos, Castro Alves, Luiz Gama, Tobias Barreto, Euclides da Cunha, Jorge Amado, Monteiro Lobato, Colombina ( fundadora da casa Lampião de Gás ), Chico Buarque, Geraldo Vandré, Raul Seixas, Zé Ramalho, Gonzaguinha, e tantos outros poetas e escritores que, independente de filiações partidárias, ou não, lançaram seus gritos de alerta em prosa e verso, denunciando situações, fazendo da sua voz a voz daqueles que não podiam falar.

Hoje as vozes se erguem contra a fome, a miséria, os direitos das minorias, a crítica à corrupção,

à defesa da ecologia e do meio-ambiente, contra a guerra...enfim...poetas são seres políticos.

Ser apolítico, quer dizer ser isento de opinião sobre tudo, ser omisso em relação ao mundo e às relações sociais...na verdade quando poetas e escritores se declaram apolíticos querem dizer que são apartidários, que não confiam naqueles que deveriam representar os interesses do povo e, via de regra, preocupam-se apenas com os próprios interesses.

Os bastidores da política partidária são um esgoto a céu aberto onde poucos poetas e escritores se arriscaram ou arriscam a pisar.

A política de quem se ocupa das letras, no mais das vezes, é bem mais pé no chão e cabeça nas nuvens...Poetas são guiados pela utopia, pela sensibilidade e por uma visão privilegiada do mundo.

Seja com metáforas ou discursos diretos atacam o X da questão e não estão necessariamente ligados a partidos ou ideologias de direita ou esquerda.

Os poetas/escritores não buscam mudar o mundo de cima para baixo, procuram antes entrar na alma de seus leitores e os fazerem refletir sobre o mundo ao seu redor.

Poetas, escritores, jornalistas independentes, olham para sociedade como quem olha para um espelho e não do alto de pedestais como os políticos profissionais.

Ao olhar para a sociedade, reconhecendo-se como fragmento da mesma, o poeta/escritor é capaz de sentir o que o povo sente, suas necessidades, revoltas, medos, suas indefinições e transformá-las em versos e textos que são a voz que não tem rosto pois é a voz de um amalgama de pessoas sem voz.

O papel político do poeta não é partidário, é o de traduzir os sentimentos que capta com sua antena parabólica da alma. É o de sinalizar caminhos, dar alertas, mobilizar a sociedade em busca de mudanças necessárias.

O poeta precisa ser e estar, não “ser star”, ( aproveitando aqui a fala de um amigo) .

O poeta não deve ser o centro das atenções o poeta é apenas um arauto da realidade.

Um amplificador dos lamentos mudos da sociedade onde está inserido.

O poeta é a caixa de ressonância dos sussurros das esquinas, das mesas de bar.

O poeta pode ou não ser ativista em prol de uma causa, pode apenas ser um trabalhador solitário pontuando sua obra nas áreas de seu interesse, mas jamais será apolítico.

Salvador, 23 de junho de 2012