Notícia
 
            Redação de jornal.  Gente até dizer chega.  Um telefone especial, usado só para trabalho toca desesperado.
            - Diga, meu chefe.
            - Praxedes?
            - Ele, Tonico.  Que voz é esta?
            - Quem está aí?  Um ferrabrás, manda um depressa.  Na setenta e sete DP.  Caso escabroso.
            - Ué, e você, que está fazendo?  Cobre a notícia!
            - Não dá.  O delegado não deixa ninguém entrar.  Só os advogados dos envolvidos.
            - Aguenta a mão aí.  Vou mandar o Lício.  É amigo do homem.
            - Manda logo, cara!  Pode chegar um na frente e adeus manchete.
            - Mas afinal, o que houve?
            - Sei lá.  Coisa de figurões, não vaza nada.
            - Fica firme.  Liga de novo se for preciso.  Vou falar com o Lício.
            Desligou e foi na sala ao lado.  Nada de Lício.  Estava devorando, num excelente restaurante próximo, sua comida favorita, era quinta-feira, prato do dia.  O redator foi lá.  Lício estava terminando os legumes, verduras, meia garrafa de vinho apenas razoável.  Branco, ia bem com o salmão.
            - Acabou, Lício?  Urgente para a setenta e sete.  Houve algo sério, aquele seu amigo delegado não deixa entrar ninguém.
            - Hélio é bravo, mas não costuma barrar a imprensa.
            - Pois barrou.  Não entra ninguém.
            - Morte?
            - Não sei, mas tenho quase certeza que não, quem passou a notícia foi o Tonico.
            Pegou um táxi.  Era melhor do que seu automóvel, não precisava ficar procurando lugar de estacionamento.  Trajeto curto, dois quilômetros, por aí.
            Na porta da delegacia, três carros elegantes, no estacionamento oficial da polícia.  Entrou e deu de cara com o detetive Luisão.  Sabia de tudo.  Uma mulher, artista famosa, fora apanhada aos beijos e carinhos com o filho, nua.
            - Quê?  Foi isto mesmo, Luisão?
            - Eu estava no flagrante, Lício.  Vi tudo.
            Não se sabe a causa de Praxedes não ter publicado a notícia.  Afinal ele não era redator de nenhum jornal importante.  Mas vetou a notícia, agora confirmada pelo seu amigo e subordinado Lício.
            Perdeu o bonde.  Um periódico concorrente não tinha estes valores.
            Vendeu durante quatro dias, faturando horrores, a notícia relegada por Praxedes.
            Acontece.  Mais do que você imagina...
Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 23/06/2012
Código do texto: T3739868
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