‘EU ME LEMBRO DELA, INDO EMBORA’

Eu perguntei à Larissa:

- O que você lembra de tua mãe, já que estávamos numa conversa sobre tipos físicos e eu disse que ela é tão magra quanto a mãe dela era, há algum tempo.

Pensei que ouviria algo positivo, mas ela apenas disse:

- Eu lembro dela indo embora. Neste dia ela me perguntou, disse Larissa:

- Estás com fome, Larissa? Disse minha mãe. E se foi.

Este foi um momento de dor, não na minha vida, mas na de um outro ser que é minha neta e que agora é amparada por mim.

- Como não abrir os braços para curar tamanha dor? Sim, pois esta dor latente deve existir em seu pequeno coração, de apenas 12 anos. Vivendo com o avô, sem pai nem mãe, no seu dia a dia.

Há sempre dor no coração das pessoas e a dor no coração humano, nem sempre enxergamos. Eu posso falar disto por mim porque ninguém nunca sequer percebeu as dores do meu coração quando eu era criança, adolescente e tampouco adulto. Então agora eu procuro estar atento às dores dos outros e, principalmente daqueles que se deixam amar.

Neste sentido também há em contrapartida o olhar do outro em relação a gente. Têm pessoas que se fecham. Que não abrem seus corações e que não se deixam amar, por mais que forcemos o amor. Há mágoas nos seus corações de criança que ficam para sempre no corpo do adulto. Eu tento educar minhas netas para que elas enfrentem este abandono numa boa. Mas penso que as cicatrizes não deixarão de existir.

Há nos corações de alguns que já passaram pela minha vida, filhos, amigos, netos que por mágoas, interferência de alguém, ou má interpretação de gestos e atitudes não se abrem. Nestes casos eu joguei a toalha e deixei para que a vida resolva. Meu coração continua aberto e disponível para o diálogo.

Neste momento eu apenas faço curativos em corações feridos que não me julgam. Corações que aceitam o meu amor e o meu carinho.

Penso que agora, nestes tempos de solidão eu acabei sendo para minhas netas um porto seguro. Tento fazer com que não julguem esta mãe e este pai ausentes, tento ser pra elas o avô que aprendi a ser com minha avó Felicidade.

Espero que um dia elas tenham no coração tão boas lembranças como as que eu guardei e que me ajudaram a compor este ser que agora eu sou, nem melhor nem pior do que ninguém, mas um ser que tem a consciência tranquila e que aplica em sua vida o que aprendeu sobre felicidade vivendo com Felicidade.

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22.06.12

MÁRIO FEIJÓ
Enviado por MÁRIO FEIJÓ em 22/06/2012
Reeditado em 27/06/2012
Código do texto: T3738998
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