A sugestão de Bilac
Um tiroteio em um morro carioca tirou-me o sono, na véspera de meu retorno a Salvador. Anote-ce, que este assustado escriba não estava arranchado nas proximidades da Linha Vermelha e nem entre a Rocinha e o Vidigal.
Eu estava hospedado em Copacabana, a mnos de três quarteirões da chiquérrima Ipanema. Copacabana que, mesmo atingida e massacrada pela violência, continua sendo o pedaço do Rio de Janeiro, que mais gosto.
Persisto na quela de ver Copacabana, como nos bons tempos de Antônio Maria; da turma do Pasquim; e da moçada da bossa nova.
A Copacabana dos botecos boêmios, dos restaurantes famosos, das boates de luxo, das madrugadas povoadas por artista, cantores, compositres e aplaudidos intelectuais.
Alimento esse neu bem-querer por Copacabana, lendo de Antônio Maria; Vinicius de Moraes; Danuza Leão; Ruy Castro; Heitor Cony e outros conhecidos e venerados cronistas que escrevem, diariamente, belas páginas sobre o Rio de Janeiro.
Copacabana que no passado foi palco de belas histórias de amor, é hoje um bairro sitiado. Suas noites são intranqüilas: revolveres e metralhadoras tiram o sono de seus moradores, pessoas idosas na maioria.
Tratada como um santuário que atrai devotos de todo o mundo, assim devia ser Copacabana.
A caminho do Galeão, o motorista do taxi que me levava ao aeroporto, confirmou que o reboliço ao qual me referi abrindo esta crônica, teria ocorrido na favela do Pavão-pavãozinho.
Devolvido, após duas horas de sereno vôo, ao silêncio de meu bairro - na Pituba não tem tiroteios - iniciei a leitura das melhores crônicas de Olavo Bilac, reunidas em um livro que adquirira numa livraria do Leblon.
Ainda assustado com o quiprocó ocorrido na minha última madrugada carioca, li, duas vezes, a crônica intitulada Pianolatria. Bilac a publicou em maio de 1907, na revista Kosmos.
O poeta das estrelas chama o Rio de Janeiro de "cidade melômana", posto que, diz Bilac, "aqui tudo se faz por música ou com música".
E fala em "pianolatria carioca", ou seja, o prazer do povo da cidade em ouvir e tocar piano. Os pianos estavam em todos os cantos e recantos do Rio, no começo do século passado; nos tempos do Bilac.
Em letras bem vivas, Olavo admite que houve erro na escolha do padroeiro da Cidade Maravilhosa. - "O seu padroeiro, escreve o poeta, dizem, é São Sebastião... Foi mal escolhido. O Rio de Janeiro devia ter, não um padroeiro, mas uma padroeira: a melodiosa Santa Cecília, bem-aventurada tocadora de cravo e órgão".
Não advogo a imediata deposição de São Sebastião. Mas o Rio, uma cidade alegre, canora, até nos momentos de aflição que a violência lhe impõe, só teria a ganhar se Santa Cecília também fosse sua protetora oficial. Lisboa tem dois padroeiros.
Creio, que não estaria sendo insolente se, neste instante, pedisse a alegre santa que desse uma ajudinha a São Sebastião.
Para que, na Cidade Maravilhosa, o som das metralhadoras assassinas fosse substituído por acordes de afinados pianos; no asfalto e principalmente nos morros.
Um tiroteio em um morro carioca tirou-me o sono, na véspera de meu retorno a Salvador. Anote-ce, que este assustado escriba não estava arranchado nas proximidades da Linha Vermelha e nem entre a Rocinha e o Vidigal.
Eu estava hospedado em Copacabana, a mnos de três quarteirões da chiquérrima Ipanema. Copacabana que, mesmo atingida e massacrada pela violência, continua sendo o pedaço do Rio de Janeiro, que mais gosto.
Persisto na quela de ver Copacabana, como nos bons tempos de Antônio Maria; da turma do Pasquim; e da moçada da bossa nova.
A Copacabana dos botecos boêmios, dos restaurantes famosos, das boates de luxo, das madrugadas povoadas por artista, cantores, compositres e aplaudidos intelectuais.
Alimento esse neu bem-querer por Copacabana, lendo de Antônio Maria; Vinicius de Moraes; Danuza Leão; Ruy Castro; Heitor Cony e outros conhecidos e venerados cronistas que escrevem, diariamente, belas páginas sobre o Rio de Janeiro.
Copacabana que no passado foi palco de belas histórias de amor, é hoje um bairro sitiado. Suas noites são intranqüilas: revolveres e metralhadoras tiram o sono de seus moradores, pessoas idosas na maioria.
Tratada como um santuário que atrai devotos de todo o mundo, assim devia ser Copacabana.
A caminho do Galeão, o motorista do taxi que me levava ao aeroporto, confirmou que o reboliço ao qual me referi abrindo esta crônica, teria ocorrido na favela do Pavão-pavãozinho.
Devolvido, após duas horas de sereno vôo, ao silêncio de meu bairro - na Pituba não tem tiroteios - iniciei a leitura das melhores crônicas de Olavo Bilac, reunidas em um livro que adquirira numa livraria do Leblon.
Ainda assustado com o quiprocó ocorrido na minha última madrugada carioca, li, duas vezes, a crônica intitulada Pianolatria. Bilac a publicou em maio de 1907, na revista Kosmos.
O poeta das estrelas chama o Rio de Janeiro de "cidade melômana", posto que, diz Bilac, "aqui tudo se faz por música ou com música".
E fala em "pianolatria carioca", ou seja, o prazer do povo da cidade em ouvir e tocar piano. Os pianos estavam em todos os cantos e recantos do Rio, no começo do século passado; nos tempos do Bilac.
Em letras bem vivas, Olavo admite que houve erro na escolha do padroeiro da Cidade Maravilhosa. - "O seu padroeiro, escreve o poeta, dizem, é São Sebastião... Foi mal escolhido. O Rio de Janeiro devia ter, não um padroeiro, mas uma padroeira: a melodiosa Santa Cecília, bem-aventurada tocadora de cravo e órgão".
Não advogo a imediata deposição de São Sebastião. Mas o Rio, uma cidade alegre, canora, até nos momentos de aflição que a violência lhe impõe, só teria a ganhar se Santa Cecília também fosse sua protetora oficial. Lisboa tem dois padroeiros.
Creio, que não estaria sendo insolente se, neste instante, pedisse a alegre santa que desse uma ajudinha a São Sebastião.
Para que, na Cidade Maravilhosa, o som das metralhadoras assassinas fosse substituído por acordes de afinados pianos; no asfalto e principalmente nos morros.