JUBILEUS RELIGIOSOS

JUBILEUS RELIGIOSOS

Frequentar os Jubileus religiosos desde muito tempo é comum entre os calambauenses, principalmente, os da zona rural. Bacalhau, Congonhas, Senador Firmino, sempre são frequentados pela nossa gente na época dos Jubileus (agosto/setembro).

Bacalhau era e continua sendo o mais frequentado. Quando menino, na fazenda Baía que ficava próxima à estrada que liga Calambau a Piranga, ficávamos, juntamente com minhas irmãs e outros meninos da vizinhança, próximos à estrada para vermos os romeiros que passavam para irem a Bacalhau. Alguns iam tocando os seus burros de carga transportando os utensílios, que seriam usados durante os dias de permanência naquela cidade.

Era o caso do Sr.Geraldino da Iva, que ia com a esposa Dona Duquinha e os seus filhos: Maria, Geraldo e Francisco. A Dona Duquinha percorria os trinta e dois quilômetros a pé, pois assim ela preferia. O Geraldino e os meninos iam a cavalo. Chegando a Bacalhau eles "arranchavam" nas casas próximas à Igreja do Senhor Bom Jesus. Essas casas eram alugadas para os romeiros e pertenciam à Igreja.

Outras famílias iam de carro de boi, caso do senhor Bem-Bem, que saía da fazenda Três Barras com a família e pernoitava na fazenda da Barra (em Piranga), do Sr. Agostinho da Barra como era conhecido. A esposa Dona Quita e os filhos ficavam hospedados na sede da fazenda e os homens no engenho de cana. - E os bois? certamente, perguntaria o Mirtinho. - Os bois iam para o pasto, né? ô...

Lá em Bacalhau, o pessoal frequentava as missas, de manhã e, à noite, a novena com direito a ouvir grandes sermões dos Padres de Piranga e outros convidados da região.

Quando voltavam, os romeiros, exibiam as medidas que traziam. Essas medidas eram fitas com que os romeiros mediam o pescoço ou o pulso do Senhor Bom Jesus. Então eles passavam a usá-las também no pulso ou no pescoço.

Nós os meninos, morríamos de inveja dos que tinham ido a Bacalhau, pois também queríamos conhecer esse tal de Jubileu.

Para Congonhas, os romeiros iam de caminhão e, mais tarde, de ônibus. Lá, também, ficavam alojados nas casas de outros romeiros ou em alguma pensão.

Certa vez, alguns fazendeiros resolveram ir a Congonhas a cavalo. Arranjaram bons animais, compraram arreios novos e lá se foram. Por lá ficaram uma semana . Rezaram e se divertiram muito. No dia da volta, um deles não conseguia achar uma sua mula que deveria estar em um determinado pasto. Procurou-a o dia inteiro e nada. Na manhã seguinte, ele foi até o Santuário, rezou e fez uma promessa ao Senhor Bom Jesus : _Se eu achar a minha mula prometo dar para este santuário cinco contos de réis. Tão logo saiu da Igreja, viu o Profeta Abdias apontando para uma determinada direção. Se O Marco de Nilo estivesse presente iria dizer que o Profeta estava apontando para o país de Guara-Piranga, mais precisamente para a Serra do Poderoso. O fato é que o romeiro calambauense seguiu a direção apontada pelo profeta e achou a sua mula. Dizem que depois da mula arreada para a volta, o romeiro disse: Vou cumprir a promessa em Calambau, dando a metade do prometido para o Santo Antônio...

Um outro fato ocorrido em Congonhas, na época (década de 50): um pai levou seu filho de nove anos e estavam passeando entre as barracas, quando o filho pegou uma tremenda birra por que queria que o pai lhe comprasse um robô. Na hora apareceu um conhecido e perguntou ao pai o motivo do choro do menino. O pai respondeu:- ele quer que eu compre um ladrão para ele. O menino retrucou:- não é ladrão não pai, é robô (brinquedo) .- Se robô, é ladrão, disse o pai. O fato é que o pai comprou o ladrão, digo, o robô..

Os romeiros, nos Jubileus, prestam homenagens, fazem pedidos, agradecem as graças alcançadas e geralmente em uma sala ao lado da Igreja, registram os milagres, colocando ali os ex-votos (fotos; braços e pernas de madeira ou cera; muletas, etc. )

Centenas de barraqueiros, aproveitam a ocasião para venderem objetos de todos os tipos, sendo os mais vendidos os artigos religiosos e vestuários.

Em Bacalhau, o pessoal ficava conhecendo as pinturas do Mestre Athayde, do Francisco Xavier Carneiro, além de imagens e altares feitos por famosos artistas. Em Congonhas tomava conhecimento das grandes obras do Aleijadinho. Por tudo isso, podemos dizer que o Jubileu era também um evento cultural.

Hoje, os romeiros de nossa região ainda frequentam os Jubileus de Bacalhau, Congonhas e Senador Firmino, sendo que o de Bacalhau ainda é o mais frequentado.

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murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 22/06/2012
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