O HÁBITO NÃO FAZ O MONGE
O HÁBITO NÃO FAZ O MONGE...
O texto a seguir foi extraído de “Crônicas da Vida Inteira”, livro inédito sobre fatos da minha vida, adaptado para o Recanto das Letras, e continua o anterior "O NOVO COROINHA".
Tal pensamento levou-me, certo dia, a exorbitar-me das minhas funções de coroinha. Alguns homens, conhecidos meus, moradores das redondezas, tinham o hábito de vir domingueiramente pras rezas, mas em vez de entrarem, ficavam de trela à sombra da capela, não dando a mínima pro ato religioso. Certamente eles achavam que as rezas eram somente pras mulheres e crianças. A mesma coisa acontecia nos dias de missa, e eram sempre os mesmos.
Nesse dia, o vigário estava de visita à comunidade. A missa estava em pleno andamento, e a conversa lá fora chegava lá dentro num zunzum medonho, quando não eram gargalhadas desavergonhadas.
Eu me enfezei com aquilo, saí de fininho pela sacristia, cheguei lá fora, e encarei os homens com ar sério.
— Escute, voceis viero aqui pra conversá ou pra rezá?
Os homens, quando ouviram e pergunta, mesmo vendo que saía daquele fedelho, mas todo empertigado nas suas vestes de coroinha, não disseram um a. Abaixaram a cabeça e saíram de fininho, de chapéu na mão e entraram na igreja. E nenhum deles foi se queixar depois pros meus pais pela falta de respeito.
Em outra circunstância eles teriam me chamado de malcriado, sem-vergonha e outros qualificativos mais. Por isso, ainda hoje, ao lembrar-me desse fato, eu fico pensando que, se é verdade que o hábito não faz o monge, como diz o ditado, ao menos impõe respeito.