O Ciclo
20h. Não sei o que eu abrigo de tão fatal que meu corpo e minha mente sempre se encontram assim, acesos e receosos, como se estivessem prontos pra matar. O dia foi frio, a noite está quente, mas nada tão anormal.
21h. Tem gente se matando pra amar, pra achar um retrato de si mesmo... como se não soubessem, nunca saberão. Dois dedos de gelo, meio copo de uísque, minutos de infrutífera solidão.
22h. Nada é tão simples quanto parece. Estranho, as luzes agora fazem mais sentido. Dois copos de uísque, não preciso mais de gelo. Entretanto, há tanto há ser discutido, a ser revelado. Lembro do olhar, do cheiro, do gosto antes doce e agora tão amargo...
23h. É frustrante ser escravo de um objeto. Você tenta evitar, tenta frear mas não dá. Esqueça os contos de fadas, seu celular é o vilão que sempre vence, assim como todos os outros. A mensagem é enviada e a reflexão dá lugar à ansiedade, que te invade, te perturba, até você não ter mais pra onde correr. Três copos de uísque.
00h. Garrafa vazia. Amor e dor: contrastantes, próximos, encontrados incessantemente. A busca pelo primeiro se baseia no sentido da vida, e o segundo é a conseqüência. É trágico, assim como a Grécia, e belo (?) assim como um espetáculo circense. De trampolim à trampolim, de palhaço à espectador. A recíproca é verdadeira. Um copo d’água para reidratar, uma boa memória pra querer acordar e o resultado de tudo isso não importa. O ciclo sempre se repetirá.