A mulher rejeitada
Por Rodrigo Tomé
Não tem coisa mais bonita que uma mulher rejeitada. É a beleza de uma tarde de outono colidindo com um sábado qualquer. Cintila no olhar dela algo de cão sem dono ou uma ave que desaprendeu a voar ou ainda uma plantinha que pede por mais água.
Essa mulher tem um olhar distante, um jeito de estar sem estar, uma voz longínqua, quase muda, que vem de dentro da doce Melancolia, algo que inspira em mim, não piedade, mas sim uma ternura próxima ao amor. É cativante e desafiador manter contato com uma mulher arrasada pelo fracasso amoroso. Elas são minuciosas em contar e recompor cada cena, cada momento alegre ou triste. Mesmo nas menores frestas da memória encontram a poeira daquele relacionamento que parecia eterno.
E quando elas se recuperam da crise? São borboletas saindo do casulo. Não que eu goste de borboletas, mas a figura é pertinente. Elas são outras e mais fortes e belas. Se existem mulheres amargas é porque elas não se entregaram completamente à dor e continuam a vagar como almas penadas sobre o mundo.
É preciso avisar aos homens-ouvintes de primeira viagem que a mulher rejeitada dificilmente vê em seu ombro-amigo ou amigo-ombro um futuro namorado. No máximo uma troca de carícias e um beijinho num momento de grande carência. A arte de ouvir uma mulher rejeitada consiste em não esperar recompensas imediatas ou consistentes, é preciso ser como o enfermeiro cuidadoso que vê a paciente se recuperar e ir embora feliz e grata (às vezes nem grata ela é).
Correndo o risco de parecer machista, mas não há coisa mais bela do que ver uma mulher em todo o esplendor de sua vulnerabilidade. A mulher rejeitada é a figura mais bela e solene já “criada” pelo homus covardis.