História única
História única
Durante toda vida fomos educados pela história única, na qual, o bem vence o mal e o herói ganha sempre no final. A verdade é contada de uma única ótica e a mentira é confirmada sem mesmo dar o trabalho de se contradizer. Por isso e por causa disso é que fazemos julgamentos sem ouvir uma segunda versão, sem dar chances à defesa e nem ao ataque. A História única apedreja o desconhecido, fortalece preconceitos e cria outros tantos.
Não temos uma única interpretação, pois então onde estariam as mudanças que nós nos propomos? Ornar um Cristo com olhos azuis e cabelos lisos, talvez, para trabalhar como galã em uma novela, fosse mais compatível. Perpetuamos o racismo até numa fé fabricada em tempos de trevas. Estudamos sobre povos e apedrejamos suas culturas; impomos nosso ponto de vista e repudiamos o que não conseguimos compreender. Com uma história escrita apenas com uma visão, fabricamos estereótipos e ideais de seres que mais parecem aberrações fabricadas por mídias.
A história não pode ser fragmentada e, nem tão pouco, deturpada; temos que conhecer cada parágrafo escrito por aqueles que constroem o mundo e não tentar apagá-los com a nossa borracha da exclusão. Aceitar as diferenças, talvez seja um novo começo para reescrevermos a nossa própria história e aceitarmos que as diferenças é que nos torna único e especial. Não somos fabricados em série e, tampouco, somos produtos, sendo assim, temos individualidades e características que nos tornam humanos e, como tal, não podemos excluir porque não aceitamos “algumas” características.
A história única nos educa para sermos excludentes e para criar uma seleção, em que, a perfeição mais parece uma aberração. Preconceitos, racismo etc., tudo isso é ensinado quando não entendemos que a vida por si só carrega suas cores e a nós cabe misturar e fazer um lindo arco-íris. Ler uma única história e não procurar nos livros da sensatez a verdadeira versão é como andar numa carroça desgovernada à beira do abismo da ignorância. Somos escritores da nossa própria vida e cabe a nós reescrevermos essa versão rascunhada, na qual, o ideal está rabiscado e ultrapassado.
Mário Paternostro