Vendo-me viver
A água não se repete sob uma ponte; escolhido o melhor momento, sobre a travessia, passou a acompanhar a água, a mesma água que arrastava o melhor momento, recurso para se tornar perene uma sensação.
Não perdia de vista o que deveria ficar para sempre, contornou obstáculos, desceu ribanceiras, atropelou pescadores; julgou, em determinados momentos, que a aridez afogasse, naquele momento, o naufrago; vazou diques, magoou o castor; viu pessoas nadando sozinhas; viu coletivos de gado buscando a outra margem.
Viu, numa pororoca, o mar engolindo a água, que até então seguira, sentiu-se pequeno para acompanhar o mar: sobraram-lhe as ribanceiras, os pescadores, os julgamentos; os castores, nadadores ou os naufrágios, a aridez e a caminhada, então compreendeu que a vida não são as águas passadas, a vida são as margens percorridas