Melancia
Até que ela me disse: Você não se deu conta do poder que tem.
“Ela” é uma dessas pessoas que não fazem parte da sua história e, aparecem num capítulo qualquer preenchendo não mais do que duas páginas, mas fazendo toda a diferença.
Um divisor de tempo. Da fase em que eu me considerava uma pessoa comum, ao período em que continuei me achando comum, porém, com habilidade.
Quando reconheci o valor de algo que, até então, tratava com uma verdadeira pechincha: “eusinha”; e me assumi alguém com nome, sobrenome, vários números de identificação, senhas, chaves e... escritora.
Fiz esta enfiada toda para confessar que antes ”dela” eu escrevia por prazer; depois “dela” passei a escrever com consciência de que o prazer não era todo meu. E também, para dizer que fico arrebatada, quando as pessoas se identificam com os meus textos.
O próprio mágico que faz nascer um coelho crescido do chapéu. O contorcionista do Cirque de Soleil. O cantor desacreditado que colocou o júri do American Idol de pé. Sei lá, numa descrição mais convincente, é como ver aquela sementinha que você jogou na areia, sem grande pretensão, virar uma melancia. Ou seja, me sinto reconhecidamente importante por, simplesmente, escrever.
Isto não é simples! “Ela” me disse (praticamente xingando), lá atrás.
É que escrevo sobre coisas corriqueiras; os amores que nem sempre dão certo; os filhos que nem sempre são perfeitos; os pais que, volta e meia, precisam ser humanos; as mulheres que, praticamente o tempo todo, têm sido atrizes sociais; os homens que, apesar da preservação dos instintos sofrem a mutação, tanto quanto; a perfeição inventada pelos laboratórios do bem-estar químico; os parasitas mercadológicos que infectam os seres; os “aliens” da mídia que abduzem a massa; a felicidade eterna que só existe nos contos, mas não nas crônicas.
Não invento fórmulas, nem frufrus. Não crio ilusões, e assumo as desilusões. Não alimento falsas esperanças, mas sustento as verdadeiras. Não apoio tiranias, nem, tampouco, os tiranos. Não aplaudo hipocrisia, muito menos sou hipócrita. Não canto baixaria, mas não fico de boca calada. Não me submeto, cometo. Não acredito em fadas, escrevo crônicas da vida real.
Enfim, lanço a semente despretensiosamente.
Contudo, quando as pessoas me aplaudem com palavras (e não com estalar de mãos) revelando que se identificam com os meus textos, e se mostrando emocionalmente aliviadas, reconheço o poder sobre qual “ela” me alertou lá atrás.
Me sinto confessando por elas, gritando por elas, chorando por elas, renegando por elas, assumindo por elas, dando prazer a elas. Em êxtase!
Numa descrição mais convincente, é ver a semente, despretensiosamente, virar melancia e não me preocupar em exibi-la, mas não me cansar de admirá-la.
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