Independência ou morte
Muitas malas já percorreram o palácio do governo, mas essa é a mais atual. Boi tatá estava em sua casa, quando recebeu um telefonema da Cuca, dizendo que ele se preparasse, pois que as quatro horas da matina o seu gabinete, sua residência e o seu escritório seria investigado pela policia federal.
Mais do que depressa, o deputado chamou a sua esposa e filhos, pegou alguns pertences e uma certa mala e foram para casa de sua santa mãe.
Junto com a mãe do deputado, passando uns dias estava o seu cunhado Saci, que viera sem lenço e sem documento, montado num pé de vento tentar conseguir emprego, mas as tentativas frustradas o deixaram triste, por isso no dia seguinte estava voltando para a cidade, onde residia a sua esposa, irmã do deputado Boi tatá.
Quando Boi tatá chegou inesperadamente na casa de sua santa mãe, pediu guarida, inventando uma desculpa qualquer. Se desculpando com cansaço, sem demora foi para o quarto. Na verdade estava tão preocupado com a polícia, que sem muito pensar entregou a mala ao seu cunhado, para que ele guardasse, já que a sua santa mãe era muito idosa.
Os que jantaram foram soturnos, um dialogo calado, como conversas furtivas. Conversa vai, conversa vem, os incomodados, cansados foram dormir. No meio da madrugada, enquanto todos dormiam a santa mãe dava dinheiro para o taxi do genro, para que ele fosse para o aeroporto. Saci, o genro, entregou a ela a bendita mala para ser entregue a deputado.
Nas rádios da vizinhança e nos aparelhos de tv, logo que amanheceu o dia, os noticiários explicavam a operação, falavam dos presos, do material apreendido, de quem ficou ileso, de quem surpreendeu e não foi surpreendido e de quem ainda estavam procurando.
Quando ao primeiro gole de café, o deputado se lembrou que dera a mala para guardar ao seu ente querido, o Saci. Foi atrás preocupado, quando a santa mãe intercedeu dizendo que Saci havia partido. Atônito, o Deputado quis se desesperar, quando vira nas mãos de sua santa mãe a bendita mala.
Ainda tomado de assalto, céptico do conteúdo, tomou só o café e foi para o quarto ansioso, enquanto a sua prole terminava o dejejum.
No canto, sorrateiramente, abriu a mala errando o código. Apertou um lado, apertou o outro lado, quando abriu...
Sacos e sacos, sacos e sacos de papel. Dinheiro que era bom sumiu.
Encorpado de raiva saiu do quarto calado. Olhou para a sua mãe, pediu a benção, chamou os seus filhos e sua esposa e disse:
- Puta que o pariu, dois milhões sumiu.
A santa mãe quis entender, para tomar uma atitude, mas ele desconversou e finalizou:
- Deixa para lá, tem muito de onde veio esse.
Foi ai que a porca torceu o rabo. Dona Benta, a vovó idosa, saiu do ostracismo e resmungou:
- Meu filho, sou velha, mas sou cidadã. Mereço respeito, mas desse jeito não vamos a lugar nenhum. E infelizmente esse é o Brasil, que de Côlonia a Democracia nunca passou.