Sabemos a Cor de Cor

Ninguém pode duvidar da capacidade que tem o homem de amar. Como também não se pode esquecer da ferocidade humana. É só nos lembrarmos do que acontece hoje com os palestinos, com seus lares invadidos por bombas de vários megatons, suas cidades queimadas e saqueadas; nos lembrarmos dos holocaustos dos negros, dos índios, como também daqueles que o sistema maior faz questão de que não nos esqueçamos nunca, como se eles fossem os únicos. Ferocidade humana que pode se traduzir no recente crime aqui no Rio, como inúmeros outros que certamente ocorrem em diferentes lugares, cometido por uma jovem e bela mulher que achou razões para assassinar a tiros o marido e depois esquartejá-lo. Ferocidade também observada na atitude de uma mãe que, com quase 70 anos, contratou por R$ 20 mil um assassino profissional para dar cabo à vida do próprio filho. Pronunciando-se, ao término da empreitada, da seguinte maneira: “Ele já está no inferno”.

Ferocidade humana que se exacerba, sobretudo nos grandes centros, com o uso imoderado das drogas, apesar de convivermos moderadamente por longos anos com uma garrafa de whiskey ao nosso lado. Ferocidade humana que não exclui a capacidade que tem o homem de amar, como dissemos, mas também de transigir e enganar o seu semelhante. Uma das características marcantes em nossas sociedades, cada vez mais orientadas para o consumo de bens materiais ou cada vez mais por esse consumo desorientadas.

Vejamos agora o que ocorre com nossa cidade, com mais 20 anos de vida a partir de 1992, destinada à reunião de chefes de estados de outros países. Podem ser observadas pela cidade marcas de um verdadeiro aparato voltado para a segurança: inúmeras viaturas da PM estacionadas em diversas ruas ou nos canteiros centrais das avenidas; motociclistas do exército orientando o trânsito, para facilitar o deslocamento das delegações internacionais; viaturas da Guarda Municipal em número expressivo rondando pela cidade – a mesma Guarda Municipal que tem com uma de suas funções primordiais a autuação de motoristas infratores, antes de qualquer orientação ou esclarecimento; soldados do exército com seus fuzis em cada passarela da Avenida Brasil, das pistas do Aterro, etc. As armas, os uniformes, as viaturas e demais equipamentos – tudo evidentemente pago com o dinheiro do contribuinte. Mas tudo nos trazendo também uma sensação de segurança maior. É bom encontrarmos uma viatura policial com a sua luz vermelha piscando ao regressarmos tarde da noite por uma via em que são freqüentes os assaltos ou arrastões.

Só que toda essa sensação de segurança irá desaparecer assim que as delegações internacionais deixarem a cidade com o fim da Rio+20. Não veremos mais tantas viaturas da PM, da Polícia Civil, da Guarda Municipal, os motociclistas do exército, os soldados do exército com os seus fuzis, etc. E voltaremos a ficar expostos aos arrastões, aos assaltos a mão armada, às saidinhas de banco, etc. Sobrarão apenas as blitzes da Lei Seca, destinadas na verdade a autuar os veículos que não estejam em dia com o pagamento do IPVA ou trafegando com a documentação irregular – quando nos fazem crer que o objetivo maior é o de tirar quem bebe da direção.

Nada disso é novidade para ninguém. O que pode ser novo para alguns é a luz do sol pela manhã, que pinta o céu sempre de uma cor diferente.

Rio, 20/06/2012

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 21/06/2012
Reeditado em 21/06/2012
Código do texto: T3735988
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