Farrapos Humanos
Eles andam pelas ruas. Sem eira nem beira. Poucos sabem seus nomes. Quem são seus familiares. Fico a imaginar o que pensam. O que afinal fizeram, nesta e em outras vidas para viverem dessa forma, como verdadeiros farrapos humanos. Maltrapilhos. Doentes. Alcoolizados. Drogados. Jogados nas sarjetas. Execrados por todo mundo como cães sem dono. Muitas pessoas no mundo vivem nessas condições. Aqui em Santana podemos contar uns quatro ou cinco casos. Fico matutando que desgosto tão cruel empurrou estas criaturas para esse lado tão sombrio da vida. Que doença os acometeu? Identificarei os personagens desta crônica pelas letras do alfabeto. Não vou citar seus nomes. Eles merecem o nosso respeito.
O personagem A – Aposentado pelo INSS, não vê a cor do seu dinheiro há muito tempo. Alguém da família tem procuração e usa seu mísero salário para outros gastos. Não tem roupas para usar. Vive nas ruas da cidade pedindo cinqüenta centavos para um, dez para outro para tomar uma pinga aqui outra acolá. Usa um pequeno lenço na mão para secar as secreções que teimam em sair dos olhos e da boca. Anda de pés descalços. Passa o dia inteiro nas ruas. Não prejudica nem incomoda ninguém. Ao menos quando não entra nas casas das pessoas, sem pedir licença. Pede água ou comida, embora tenha tudo a sua disposição em casa. Tem família, irmãos, sobrinhos, filhos e netos. Não é bem vindo. Por andar sujo e fedendo é constantemente rechaçado pelas pessoas.
O personagem B – Alto, magro, vive alcoolizado. Onde tem movimento de gente ele está por perto. Fala com a voz pastosa. Sua língua é branca de tanta cachaça. Não pode ver uma autoridade que grita o seu nome e corre para abraçá-la, causando um constrangimento enorme. Não se pode repelir uma criatura que muitas vezes não está sabendo realmente o que está fazendo. Isso é tarefa da segurança pessoal. Certa ocasião em uma inauguração ele abraçou o presidente do evento, roubando a cena. É extremamente inconveniente. Vive sendo rechaçado e repelido.
O personagem C – Tem dias que está sóbrio. Faz jogos do bicho. Ganha aí seus trocados. A primeira impressão que se tem é que é uma pessoa normal. Trabalha. Comunica-se de forma compreensível. Tem família, vários filhos pequenos, mas vive separado da família. Sua esposa o abandonou talvez por causa da bebida. Outro dia se apresenta irreconhecível. Completamente fora de si. Gesticula exageradamente no meio da rua como se estivesse discutindo ou brigando com alguém imaginário. Todo sujo de rolar pelo chão. Fede a urina, fezes e lama. Anda pelo meio das mesas dos bares da cidade. Apossa-se de copos de bebidas dos clientes. Toma todas e perturba todo mundo. Não são raros os donos dos bares ou os próprios clientes que o escorraçam como se fosse um cachorro sem dono.
O personagem D – É do sexo feminino. Tem estatura baixa. É um pouco obesa. Atualmente anda com a cabeça raspada. Talvez por causa da higiene seus cabelos tenham sido raspados para não se infestar de piolhos. Anda com muitos objetos nas mãos. Cadernos. Sacolas plásticas com rabiscos de papel. Usa roupas curtas deixando seus quadris e pernas totalmente amostra. Também devido ao descuido com a higiene tem um odor desagradável. Anda pelas ruas durante o dia e parte da noite. Pedindo coisas para se alimentar. Enfim é outra pessoa que sua presença não agrada. Embora não chegue a ser expulsa como os outros. É tolerável.
Nessas condições, muitos "farrapos humanos" vivem pelo mundo. Por que deixamos isso acontecer? Por que os governos não criam Centros de Reabilitação Psicológica para essas pessoas? Dando-lhes um tratamento digno? Há tantos CAPS no país, mas os doentes só são admitidos nesses centros se tiverem vontade. Ou se forem encaminhados voluntariamente por seus familiares. Ora a maioria dos seus familiares não querem suas companhias. Elas próprias não sabem exatamente o que querem, não têm vontade. É preciso então encontrar outra solução! Qual seria essa solução?
Eles andam pelas ruas. Sem eira nem beira. Poucos sabem seus nomes. Quem são seus familiares. Fico a imaginar o que pensam. O que afinal fizeram, nesta e em outras vidas para viverem dessa forma, como verdadeiros farrapos humanos. Maltrapilhos. Doentes. Alcoolizados. Drogados. Jogados nas sarjetas. Execrados por todo mundo como cães sem dono. Muitas pessoas no mundo vivem nessas condições. Aqui em Santana podemos contar uns quatro ou cinco casos. Fico matutando que desgosto tão cruel empurrou estas criaturas para esse lado tão sombrio da vida. Que doença os acometeu? Identificarei os personagens desta crônica pelas letras do alfabeto. Não vou citar seus nomes. Eles merecem o nosso respeito.
O personagem A – Aposentado pelo INSS, não vê a cor do seu dinheiro há muito tempo. Alguém da família tem procuração e usa seu mísero salário para outros gastos. Não tem roupas para usar. Vive nas ruas da cidade pedindo cinqüenta centavos para um, dez para outro para tomar uma pinga aqui outra acolá. Usa um pequeno lenço na mão para secar as secreções que teimam em sair dos olhos e da boca. Anda de pés descalços. Passa o dia inteiro nas ruas. Não prejudica nem incomoda ninguém. Ao menos quando não entra nas casas das pessoas, sem pedir licença. Pede água ou comida, embora tenha tudo a sua disposição em casa. Tem família, irmãos, sobrinhos, filhos e netos. Não é bem vindo. Por andar sujo e fedendo é constantemente rechaçado pelas pessoas.
O personagem B – Alto, magro, vive alcoolizado. Onde tem movimento de gente ele está por perto. Fala com a voz pastosa. Sua língua é branca de tanta cachaça. Não pode ver uma autoridade que grita o seu nome e corre para abraçá-la, causando um constrangimento enorme. Não se pode repelir uma criatura que muitas vezes não está sabendo realmente o que está fazendo. Isso é tarefa da segurança pessoal. Certa ocasião em uma inauguração ele abraçou o presidente do evento, roubando a cena. É extremamente inconveniente. Vive sendo rechaçado e repelido.
O personagem C – Tem dias que está sóbrio. Faz jogos do bicho. Ganha aí seus trocados. A primeira impressão que se tem é que é uma pessoa normal. Trabalha. Comunica-se de forma compreensível. Tem família, vários filhos pequenos, mas vive separado da família. Sua esposa o abandonou talvez por causa da bebida. Outro dia se apresenta irreconhecível. Completamente fora de si. Gesticula exageradamente no meio da rua como se estivesse discutindo ou brigando com alguém imaginário. Todo sujo de rolar pelo chão. Fede a urina, fezes e lama. Anda pelo meio das mesas dos bares da cidade. Apossa-se de copos de bebidas dos clientes. Toma todas e perturba todo mundo. Não são raros os donos dos bares ou os próprios clientes que o escorraçam como se fosse um cachorro sem dono.
O personagem D – É do sexo feminino. Tem estatura baixa. É um pouco obesa. Atualmente anda com a cabeça raspada. Talvez por causa da higiene seus cabelos tenham sido raspados para não se infestar de piolhos. Anda com muitos objetos nas mãos. Cadernos. Sacolas plásticas com rabiscos de papel. Usa roupas curtas deixando seus quadris e pernas totalmente amostra. Também devido ao descuido com a higiene tem um odor desagradável. Anda pelas ruas durante o dia e parte da noite. Pedindo coisas para se alimentar. Enfim é outra pessoa que sua presença não agrada. Embora não chegue a ser expulsa como os outros. É tolerável.
Nessas condições, muitos "farrapos humanos" vivem pelo mundo. Por que deixamos isso acontecer? Por que os governos não criam Centros de Reabilitação Psicológica para essas pessoas? Dando-lhes um tratamento digno? Há tantos CAPS no país, mas os doentes só são admitidos nesses centros se tiverem vontade. Ou se forem encaminhados voluntariamente por seus familiares. Ora a maioria dos seus familiares não querem suas companhias. Elas próprias não sabem exatamente o que querem, não têm vontade. É preciso então encontrar outra solução! Qual seria essa solução?