Vinte E Poucos Anos
Eu admito: sou um pouco cabeça dura.
Obstinado é o termo mais adequado. Quando gosto de algo, por mais que todos os argumentos do mundo sejam desfavoráveis à causa que ganhou minha aprovação, não adianta, não mudarei minha opinião.
Permaneço firme em todas as direções que minha atenção venha se dividir.
Quando acesso a internet, pode ter certeza, os mesmos sites de sempre terão prioridade. Não pense que perderei tempo ou negociarei minha fidelidade com o Google. Multiplicarei as guias do navegador em cinco: uma para um site de notícias, outra para meu e-mail, duas para sites de relacionamento distintos e outra, obviamente, para meu blog. Não passa disso.
Assim também é com meus colecionáveis. Se você conferir minha devedeteca observará que os diretores dos filmes que tenho sempre são os mesmos. Isso também serve para os livros. Posso até ler outros autores, mas os que eternizaram em minhas prateleiras também nunca mudam. Existe algo que quando conto todos se arrepiam, discordam e esbravejam comigo. Algo que contradiz o pensamento coletivo ao extremo. Desejo o que ninguém, em sã consciência, nem sequer imagina para não sofrer por antecedência.
Estimo a ideia de envelhecer. Tornar-me um "tio" para a geração vindoura.
Não me assusta o fato da gravidade agir. Pelo contrário, os louros de ser um homem experiente resolvem qualquer mal estar ante as dificuldades físicas que se apresentarão.
Os pontos positivos são muito mais relevantes que os negativos.
Imagino-me passando em frente nas filas do banco, do supermercado; tendo vaga preferencial nos estacionamentos, contando com a ajuda de almas caridosas que estão sempre dispostas a amparar um senhor de meia idade.
Sem contar o fato de todo conhecimento que terei acumulado. Me questionarão o que quiserem que terei uma resposta, algo a acrescentar. Nunca ficarei calado numa roda de amigos. Sempre terei assunto para compartilhar. Uma história do casamento, um fato engraçado com os filhos, alguma desavença mal resolvida, um olhar mais maduro em relação à vida. Terei o prazer da última palavra.
Sou alguém que gosta de ser levado a sério. Principalmente quando diz respeito ao que escrevo. Mas fica difícil transmitir maturidade quando tudo que as palavras constroem é derrubado pelo deslumbre de minha juventude.
Quando um Luís Fernando Verissimo diz alguma coisa todos concordam ou, ao menos, debatem sobre o tema. Quando eu escrevo algo sou mal interpretado, considerado imaturo e ofendido atrás das cortinas por todos. Se eu fosse mais velho, meus cabelos fossem brancos, talvez minha história de vida, minhas experiências, fosse mais relevante para o olhar crítico alheio.
Concordo o que disse certo cantor: "... quero saber bem mais que meus vinte e poucos anos."
Já sei!
Farei o mesmo que as mulheres. Com uma intenção inversa, na verdade. Pintarei meus cabelos. Não para parecer mais jovem, mas para parecer mais velho.
Não farei como meu tio Zeca que tinge seus cabelos de cor caju aos 67 anos. Não. Farei luzes invertidas. Agrisalharei minhas madeixas. Não de uma vez só, para ninguém perceber. Gradualmente. Próximo aos 30 terei a imposição de uns 55.
Do que vale ser jovem, ser maduro para minha idade, ter talento se meu ponto de vista sempre é categoricamente condenado e execrado. Não posso viver o que idealizo. Me disfarçarei, pois, de velho para adiantar minhas realizações.
Sempre há o risco da calvície. Uma possibilidade da idade. Aí deixo a barba crescer. Ela tratará de expressar minha hombridade e equilibrará minha falta de cabelo. Aprovo a ideia de uma barba grisalha.
Espero, apenas, que a sabedoria da idade não me faça arrepender-me dos impulsos que me conduziram a ela. Creio que não. Sou muito cabeça dura para isso.