Homem de Bar

Cheguei à conclusão que, definitivamente, eu não sou um homem de bar.

Nunca achei atraente ficar horas sentado junto a uma mesa conversando assuntos nada construtivos, me estufando com bebidas que não agradam meu paladar ao lado de pessoas que não tenho a mínima afinidade.

Em um momento foi interessante frequentar tais locais, dar risadas, comer uns petiscos, estar acompanhado, etc. Mas no final o resultado foi o mesmo que a maioria das vezes onde idealizamos excessivamente: frustração.

Peço perdão aos cervejeiros, aos amantes do happy hour, aos paqueradores de plantão, os proprietários de bares - ou melhor, pubs

- e qualquer outra classe que possa se ofender com o que vou afirmar. Não há graça alguma em frequentar bares.

Podem me chamar de careta, lei seca, solitário, o que for não mudo minha opinião.

Por estes tempos combinei de jogar futebol com os amigos em uma quarta à noite. Típico. Em função dos horários e compromissos nossa partida iniciaria às 23 h e terminaria a meia noite. Neste dia, às oito e meia, o Grêmio jogaria pela Copa do Brasil. Marcamos de nos encontrarmos mais cedo para assistir o jogo pela televisão.

Tudo perfeito: vibrar com o tricolor e depois explodir em quadra vestindo o manto e se sentindo o Danrlei. Só homens compreendem esta analogia.

Como voltaria muito tarde, para evitar bagunças desnecessárias na madrugada, optei por jantar fora. O que seria rápido e barato? Já sei! Um cheeseburger - ou "xis" coração, mesmo - servido em um bar na Júlio de Castilhos.

Fui. Sem pestanejar. Estava com fome. Ao me sentar e contemplar o ambiente compreendi duas coisas: o que leva as pessoas gostarem de frequentar bares e por que eu repudio tanto o centro social fermentado.

Sentei-me, saquei o celular do bolso e aguardei meu jantar. Homem geralmente não é bom nisso, mas minha visão periférica me avisou que estava sendo cortejado por duas mulheres de uma mesa próxima. Mas, ah! Guri! você deve estar pensando. Não. Não mesmo. Estava em um bar na Julio de Castilhos, centro de Porto Alegre, às 19 h 40. Que tipo de mulher você acha que frequenta locais deste tipo? Você entendeu.

Neste momento tive a primeira revelação: as pessoas vão a bares para suprir suas necessidades afetivas e emocionais.

Não é generalização. É realidade.

Se você não vai para flertar, vai para rir com os amigos. Uma boa maneira de descontração. Mas a grande maioria confessa que vão a bares para beber, encher a cara, se dopar, ficar de porre, mamado. Por quê? Para esquecer os problemas.

Bar é um consultório psiquiátrico disfarçado. O garçom é um psicólogo camuflado. O cliente é um paciente soberbo.

Podemos listar algumas personagens recorrentes: uma mulher que foi traída pelo marido e quer deixar a dor para trás, um estudante preocupado com o TCC, um marido atolado em dívidas que tem em casa uma esposa que não deixa ele esquecê-los, um viúvo que não sabe o que fazer depois da morte de sua amada, solteiros e solteiras ansiosos por viver uma nova paixão, entre outros.

O que eles têm em comum? Todos desejam mudar suas realidades.

Homens de bar terão que concordar comigo. Ao passar por aquela porta a sensação é que está entrando em outro mundo e você é outra pessoa. Você se transforma em tudo aquilo que você sempre quis ser. Pelo menos enquanto estiver ali ou sob o efeito do álcool.

Por isso não sou um homem de bar, mas de restaurante. Prefiro um ambiente calmo e silencioso para fazer minhas refeições. Se quiser imaginar tenho minha cabeça, minha mente. Sinceramente não conheço nada mais vertiginoso do que ela.

E a segunda revelação? Por que não vejo graça em bar?

Simples. Não gosto de ir ao médico.

Eduardo Dorneles
Enviado por Eduardo Dorneles em 20/06/2012
Reeditado em 20/06/2012
Código do texto: T3734967
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