A Pessoa Mais Bonita Do Mundo
Eu sempre tive uma quedinha por ela. Na verdade, sendo bem sincero, era apaixonado. Tive várias outras paixonites, mas desde que a vi de cabelo azul nunca mais fui o mesmo. Ela era linda. Melhor, continua linda. Mais ainda depois que foi mãe. A maturidade da idade trouxe uma beleza diferenciada para ela. Mais de dez anos se passaram desde que a vi pela primeira vez. Mas não consigo mudar minha opinião. Ela continua sendo uma das mulheres mais lindas que já conheci. De quem falo? Dela. Natalie Portman.
Uma das mais completas atrizes hollywoodianas da atualidade. Vencedora de Oscar e super estrela do cinema mundial. Onde ela passa, com certeza, é motivo de frenesi. Ela transpira uma beleza única.
Um brasileiro quando lê isso, certamente, não entende quando digo isso a respeito dela. Acostumados com mulheres-frutas siliconadas e artificialmente bronzeadas e "enloiradas", assegurar que uma mulher com mais de 30 anos e 1m60 é muito mais bela que qualquer uma dessas capas de revistas é loucura. Loucura! Mas não. Definitivamente não. Quem disse que ser uma "Frankenstein" da cirurgia plástica é sinônimo de beleza? Quem disse que ser loira, usar ouro, vestir roupas caras e entender de moda é o padrão adequado?
Como disse certo amigo, o que importa é o jeito. O jeito. Tratando-se de jeito eu prefiro a Natalie Portman. O jeito diz quem a pessoa é. A Nat, por exemplo,é judia, vegetariana, formada em psicologia na Universidade de Harvard e na de Jerusalém, é fluente em hebraico e tem conhecimento de francês e alemão. E ainda tem este ar virginal e puro em seu sorriso. Apaixonante. Mas eu não a conheço realmente. Não sei de suas aflições e anseios. Qualquer análise, assim, é limitada. Superficial.
Toda opinião, todas as opiniões são superficiais. Este monte de listas que surgem a cada ano elegendo quem são as pessoas mais bonitas do mundo não passa de imposições da mídia sobre a concepção geral. Uma, desculpem-me a agressividade, manipulação silenciosa. Admito. Até mesmo minha admiração pela Natalie Portman é vazia. Fruto da exposição que o cinema traz. Existe mais que um padrão. Isto se comprova pela minha paixonite pela senhora Portman. Ela é a representação dos anseios de pessoas com as personalidades semelhantes à minha.
Como dizer se uma pessoa é a mais bonita por apresentar um sorriso encantador, um corpo admirável e conquistas invejáveis, mas sem avaliar o que ela realmente é. No íntimo. No segredo de sua casa. É fútil dizer que esta, ou aquela são as pessoas mais bonitas se nunca conheceremos todas as pessoas do mundo. Ainda mais quando falamos da essência de cada um. Que é o que realmente importa. Isso chega a ser preconceituoso.
Mas conflitando com isso, insisto em dizer quem é a pessoa mais bonita do mundo. Se não a mais, uma das mais. A minha irmã. A Ana. A Aninha.
Ela não tem nada demais se analisarmos segundo o padrão da Vogue ou da Playboy. Nada mesmo. Tem quase quarenta anos. Está um pouco acima do peso. Não se veste bem. Nenhum pouco. Já falei isso para ela, mas não adiantou. Não tem nenhuma graduação. Não recebe rios de dinheiro como algumas – o que é o maior respaldo para as pessoas serem belas, convenhamos. Sofre de problemas respiratórios. E... ah, o principal. É deficiente mental.
Que estranho escrever isso. Desconfortável. Mas é a verdade. É muito inteligente para a limitação que tem. Apesar da idade, parece que tem 12 anos. É ligeira para umas coisas, mas nem tanto para outras. Comporta-se como uma criança mimada por alguns momentos. Precisa tomar alguns medicamentos para regular seu temperamento. Mas, definitivamente, é a pessoa mais bonita que conheço.
Como assim? Por quê? Por que ela é extremamente rica por dentro.
Fomos a um velório de alguém que não era tão boa gente assim. Minha avó paterna. Bah!, que insensível, você deve estar pensando. Diz isso porque não conhecia minha avó. Não vou ficar expondo suas imperfeições, mas digo que ela foi uma das principais responsáveis pelos traumas que meu pai sofreu na vida. Influenciando seu comportamento até hoje. Além de pegar no pé da minha mãe. Da minha santa mãezinha, que Deus a tenha. Além de ser extremamente ausente em nossa criação e fazer, descaradamente, acepção entre os netos. Já viu vó fazendo isso. Pois, é.
Voltando para o velório. Ninguém chorava ante ao corpo. Ninguém. Nenhum filho, nenhum neto, nenhum familiar ou amigo. Estavam abatidos. Mas não desesperados. A morte não estava rasgando seus corações. Nem o meu. Estava consolando meu pai. Era o que importava. Pela minha avó não podia fazer mais nada. Mas a Ana, a feinha, a doente, a que incomoda, chorava angustiadamente ao lado do caixão.
Chorei também. Constrangido. A pessoa que todos desprezavam era a mais humana entre todos. Senti sua dor. Vi a complexidade e riqueza das emoções dela, apesar de sua limitação psicológica. Conclui: a minha irmã é a pessoa mais bonita do mundo.