Antiga? Eu?!

   Quem já passou dos quarenta sabe que não é fácil. Não, não é fácil.
   A concorrência com as de vinte ou trinta é desleal. A gente tem que brigar o tempo todo, com todo mundo. Pior, com a gente mesmo, principalmente diante do espelho. Malditas! Quem? Ora, as rugas, claro! Haja Rugol (este é do tempo de minha mãe, mas ainda funciona), haja peeling, haja botox, haja paciência!
   O plano de saúde começa a encarecer, e as visitas ao dermatologista, ao cardiologista, ao angiologista, ao nutricionista, e a quase todos os "istas", ficam mais frequentes. Isso sem contar os "eutas": fisioterapeuta e psicoterapeuta.
   Mas o grande problema não é esse, ou, não é só esse. Problema maior é arrumar um namorado. Se você arranja um mais jovem, é ridícula; se arranja um mais velho, está tentando dar o golpe, principalmente se ele for rico. Se for rico e gagá, aí que é que o povo fala. E, em alguns casos, até que o povo tem razão.
   Existe outro desconforto para a mulher de meia idade: exatamente ser chamada de mulher de meia idade. Quem inventou essa droga? Se ainda fosse para dividir por dois, tipo, ter quarenta com aparência de vinte. Mas não, meia idade, metade de um século. É para arrasar, para colocar a auto-estima lá embaixo!
   Andar na moda. Ah, isso também é complicado: se a gente usa algo mais descolado, mais moderninho, mais fashion, está querendo parecer garotinha; se opta por um modelito mais sóbrio e discreto, fica parecendo velha demais.
   E as coisas não param por aí. Sair para dançar, por exemplo, é um martírio. Ir para a balada, dançar ao som de música eletrônica, há sempre aquele "nada a ver", mas, se for ao baile da terceira idade, as idosas já olham para você desconfiadas e cochicham entre si: "O que esta assanhada está fazendo aqui? Está querendo roubar nossos velhinhos?"
   "Mas para os quarentões e cinquentões, existem os bailes retrô ou flash back.", muitos dizem. Porém, às vezes, os DJ's parecem querer gozar com a nossa cara: mandam um sertanejo universitário, um pagode e até funk. Fala sério! Se é flash back, o repertório é outro. Eu não vou a um baile desses para ouvir "ai, se eu te pego...", ou "tá vendo aquela lua que brilha lá no céu..." ou sei lá mais o quê! Eu quero ouvir músicas dos anos 60, 70 e 80. Se é para recordar manda um Bee Gees, uma Donna Summer (que Deus a tenha!), um K.C. and The Sunshine Band, um Doobie Brothers e outros ídolos da Geração Disco.
   Você gosta de ir a um barzinho, tomar um chope, ouvir uma música ao vivo? Poi é, eu também gosto. É outro dilema: se vai sozinha, está encalhada; se vai acompanhada atrai olhares invejosos para você, ou, cobiçadores e insinuantes para o seu acompanhante.
   As estatísticas comprovam que existem muito mais mulheres sozinhas que homens. Portanto, se você teve a sorte de encontrar um cara disponível, interessante, inteligente, segure-o, não o deixe escapar. Evite ir a barzinhos, não desfile com ele por aí, exibindo-o como um troféu. A concorrência é tão grande que podem tomá-lo de você à força: - "Você aí, passe esse homem para cá! Isso é um assalto! Perdeu, minha filha, perdeu!"- É mais seguro ficar em casa. Não importa se na sua casa ou na dele, mas não saia. E mantenha sempre à mão os números dos melhores Dellivery's da cidade. Vai ser muito útil se você não quiser ir para a cozinha todas as vezes que vocês se encontrarem. É claro que é importante que você vá, pelo menos de vez em quando, e que faça uma massa, um strogonoff, ou mesmo uma omelete, mas que faça alguma coisa. Você sabe: homem feliz é homem bem alimentado. Em todos os sentidos, entendeu?
   Não, não é fácil chegar aos quarenta. Tudo bem, eu confesso, aos cinquenta. Na verdade é mais um pouquinho: cinquenta e uns. Mas, como sempre há o lado bom de tudo, ser uma mulher madura também tem seu lado positivo. Apesar de os amigos de seus filhos só a chamarem de tia; de os vendedores da farmácia já se dirigirem para a seção de tintura para os cabelos ou para a prateleira dos anti-hipertensivos (quando não de antidepressivos) quando a veem entrando; de as pessoas passarem a perguntar se você já está aposentada ou quantos netos você tem; de, num coletivo, algum jovem ceder o lugar para que você se sente (isso é raro, mas acontece); enfim, apesar de situações como essas passarem a fazer parte do seu cotidiano, é bom chegar à maturidade.
   Uma das coisas boas é não precisar provar mais nada para ninguém (acho que li isso em algum lugar). A gente sabe exatamente o que quer e o que não quer mais para nossa vida.
   De um modo geral, aos cinquenta anos, a mulher já alcançou seus objetivos pessoais e profissionais. Se teve filhos já os criou, não sonha mais com isso. Suas energias são investidas em outros projetos: trabalha agora por prazer, viaja, namora, estuda, lê, escreve, pinta, se diverte, etc.
   A mulher madura não se desespera facilmente. Ela sabe que as fases são transitórias, que os momentos ruins passam, assim como os bons. Ela tem paciência de esperar o tempo de duração de cada coisa. A experiência fez com que aprendesse a lidar com as perdas, as dores e as decepções. Também a fez entender que a felicidade tão sonhada desde muito cedo, não é alcançada só com grandes conquistas, mas que pequenas conquistas podem ser fonte de grande felicidade. A gente entende que a vida não é um "bicho de sete cabeças".
   Na verdade, o bicho tem muitas cabeças mais. Porém, a gente vai matando todas elas, vai sendo feliz do jeito que dá e pode, vai construindo o presente o melhor possível sem se preocupar muito com o futuro (para quê fazer planos a longo prazo?).
   Só não venha dizer que a gente é antiga.
   Antiga? Eu?! Não!
   Sou apenas uma mulher em plena maturidade.

 
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 19/06/2012
Reeditado em 18/09/2012
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